Nos tais dos amores
nunca fiz volume de
me evitar
cada um são necessárias
armadilhas que o
tempo nunca desarmou
hora nenhuma pesei a palavra
amor em conta de
tiro atirado
não. tenho os amores no
dever de sombra fresca
na hora a pino da roça
ali é que são todas as
sonolências, gosto ralinho
de acabar o sol.
Mas o amor mesmo, no
oco cavado e seco de
cada garrafa
o amor é mal-jeito no peito
vesgueira súbita no
diário capinar
é o mais vivente de todo
tipo bravio de sagrados
desesperos
o amor é como aviso de morte
do irmão que a gente nem
não conheceu
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
Fui a Palavra
eu me vesti de palavra
foi pra tua boca me usar
sem o tempo de outro gosto
não fui que não ser cuspido
fui teu grito no quando do amor
o parido que furtado de ares
fui a pedra na tua fala
o pro-inferno que você fez mandar
fui o doce do teu sorriso felino
em tantas horas do teu brincar
fui tua voz transtornada
o calado no torto do teu silêncio
fui tua angústia engasgada
a estreiteza do teu sussurro
e me fui falado, bichinho,
fui teu pedaço na letra do Chico
fui o conto no teu ninar
o balbucio na madrugada
fui a tua palavra encolhida
o segredo nas tuas cirandas
e fui tua coleção de verbos
fui os teus pontos e mas
fiz um novelo na tua língua
pra ser o depois do suspiro
eu me vesti de palavra menina
pra ser pedaço da tua história
uma curva nas tuas páginas
o tanto que alguém vai narrar
foi pra tua boca me usar
sem o tempo de outro gosto
não fui que não ser cuspido
fui teu grito no quando do amor
o parido que furtado de ares
fui a pedra na tua fala
o pro-inferno que você fez mandar
fui o doce do teu sorriso felino
em tantas horas do teu brincar
fui tua voz transtornada
o calado no torto do teu silêncio
fui tua angústia engasgada
a estreiteza do teu sussurro
e me fui falado, bichinho,
fui teu pedaço na letra do Chico
fui o conto no teu ninar
o balbucio na madrugada
fui a tua palavra encolhida
o segredo nas tuas cirandas
e fui tua coleção de verbos
fui os teus pontos e mas
fiz um novelo na tua língua
pra ser o depois do suspiro
eu me vesti de palavra menina
pra ser pedaço da tua história
uma curva nas tuas páginas
o tanto que alguém vai narrar
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Livro dos nós
é como aquele inteiro ano
infinitas curvas de rodas d'água
fosse um amanhecer de dia santo
faz um silêncio em floração
feito aqueles milagrinhos
no pouco das frestas na calçada
vai existir um outro tempo
um estar na cama, que é a
conta entre culpa, angústia, solidão
o pão conhecido em detalhe novo
um café a tornar-se frio, e os
pés no gelado do ladrilho
a gente tem um querer solto
arisco em ser qualquer coisa
pensa que é água, que é vento
que desdobra em toda orgia
de pensamento: poda o capim,
corta o baralho, proseia a cachaça
vive o sublime do joão-de-barro
no enquanto a gente se basta
é auto em toda coisa pequena.
não nada. não tarda a existência
a tornear no dentro um vasinho
de doença, um zumbido, uma coisa
o tempo entornado é tudo oficina
e o querer sem fronteira o barro
do vaso, a fria matéria-prima
a gente sonha lampejos de paz
e só desadoece quando não existe.
todo dia que acaba é só tratamento
se há graça, está na vigília,
no fardo de terra que se alivia
no tempo-de-aleluia de um enxergar
cada inteiro ano é então pó
pedra-sabão que a hora vai roer.
chão, relevo, sonho e só
infinitas curvas de rodas d'água
fosse um amanhecer de dia santo
faz um silêncio em floração
feito aqueles milagrinhos
no pouco das frestas na calçada
vai existir um outro tempo
um estar na cama, que é a
conta entre culpa, angústia, solidão
o pão conhecido em detalhe novo
um café a tornar-se frio, e os
pés no gelado do ladrilho
a gente tem um querer solto
arisco em ser qualquer coisa
pensa que é água, que é vento
que desdobra em toda orgia
de pensamento: poda o capim,
corta o baralho, proseia a cachaça
vive o sublime do joão-de-barro
no enquanto a gente se basta
é auto em toda coisa pequena.
não nada. não tarda a existência
a tornear no dentro um vasinho
de doença, um zumbido, uma coisa
o tempo entornado é tudo oficina
e o querer sem fronteira o barro
do vaso, a fria matéria-prima
a gente sonha lampejos de paz
e só desadoece quando não existe.
todo dia que acaba é só tratamento
se há graça, está na vigília,
no fardo de terra que se alivia
no tempo-de-aleluia de um enxergar
cada inteiro ano é então pó
pedra-sabão que a hora vai roer.
chão, relevo, sonho e só
Mais Infâncias
a infância é um caminho,
sempre é.
naqueles dias fazia da
colorida capa do edredon
nossa máquina-do-tempo
dali viajamos a todas as terras
de dinossauros: latiam lá fora
enquanto a gente se encolhia
em pânico-gargalhadas
dali evaporamos ao futuro de todos
os carros e gente voadora: lá fora
robôs soldados a latir em ameaça
aquele jardim era uma passagem
cada planta, pedra, bicho
tudo emprestava pra gente o
feitiço de ser outra coisa
canibais por detrás das moitas
ninjas escalando o telhado
a terra que engolia tesouros
areia que matava a fome
tudo como se com vontade
porquê e movimento
devo ser
que me explico
pela máquina-do-tempo:
este agora é um futuro
que me abraçou pesado
enquanto carrego
o talvez de poder voltar
de quando em quando
penso ouvir o cachorro
misturado a criança, café
e bolo de cenoura
vai ver é que a gente
corre muito
que é pra não estranhar
o mesmo jardim, o sempre
edredon e o susto
de que não vai crescer
sempre é.
naqueles dias fazia da
colorida capa do edredon
nossa máquina-do-tempo
dali viajamos a todas as terras
de dinossauros: latiam lá fora
enquanto a gente se encolhia
em pânico-gargalhadas
dali evaporamos ao futuro de todos
os carros e gente voadora: lá fora
robôs soldados a latir em ameaça
aquele jardim era uma passagem
cada planta, pedra, bicho
tudo emprestava pra gente o
feitiço de ser outra coisa
canibais por detrás das moitas
ninjas escalando o telhado
a terra que engolia tesouros
areia que matava a fome
tudo como se com vontade
porquê e movimento
devo ser
que me explico
pela máquina-do-tempo:
este agora é um futuro
que me abraçou pesado
enquanto carrego
o talvez de poder voltar
de quando em quando
penso ouvir o cachorro
misturado a criança, café
e bolo de cenoura
vai ver é que a gente
corre muito
que é pra não estranhar
o mesmo jardim, o sempre
edredon e o susto
de que não vai crescer
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Foi
Sempre vai uma cabeça ingênua
nas longas comitivas da gente.
quando um moleque, boi-de-piranha
a sacrificar em travessia o preciso.
um açum-preto a varar na
cerca os próprios olhos.
uma raposa a roer na
armação a própria pata.
a onça a mastigar filhotes.
Chronos, chavelhudo, a
dilacerar cada cria derradeira,
essa sua tanta condenação.
a dívida não há quem pague.
o poço não há quem seque.
a foice não há quem pare.
a febre não há quem tire.
atire, outra cabeça.
sangra na curva em perambeira.
perde um pedaço, farto, parto
que é pra cursar, calado,
nova ribanceira.
nas longas comitivas da gente.
quando um moleque, boi-de-piranha
a sacrificar em travessia o preciso.
um açum-preto a varar na
cerca os próprios olhos.
uma raposa a roer na
armação a própria pata.
a onça a mastigar filhotes.
Chronos, chavelhudo, a
dilacerar cada cria derradeira,
essa sua tanta condenação.
a dívida não há quem pague.
o poço não há quem seque.
a foice não há quem pare.
a febre não há quem tire.
atire, outra cabeça.
sangra na curva em perambeira.
perde um pedaço, farto, parto
que é pra cursar, calado,
nova ribanceira.
Sempre infâncias
o mundo, era do tamanho
da rua da minha casa à
escola professora Kazuco Ohara
de tão pequeno, ele era bonito
no campinho fiz meus primeiros gols
e ali experimentei o nascer da inveja:
como jogava bem o tal do Saraiva
de tão bom, a gente tinha medo
cresci em uma descida, e o
desejo era ser o time a atacar para cima
- ainda tento entender o porquê.
de tão torto, meu coração só conheceu enxurrada
naquele dia eu conheci Renata
tinha sorriso bonito e pele
que entendi morena. pouco toquei
de tão longe, evaporou de todas as tardes
foi a primeira, onde tudo ainda é.
ainda vou à escola no depois do almoço
enquanto Renata deixa a rua vazia
da rua da minha casa à
escola professora Kazuco Ohara
de tão pequeno, ele era bonito
no campinho fiz meus primeiros gols
e ali experimentei o nascer da inveja:
como jogava bem o tal do Saraiva
de tão bom, a gente tinha medo
cresci em uma descida, e o
desejo era ser o time a atacar para cima
- ainda tento entender o porquê.
de tão torto, meu coração só conheceu enxurrada
naquele dia eu conheci Renata
tinha sorriso bonito e pele
que entendi morena. pouco toquei
de tão longe, evaporou de todas as tardes
foi a primeira, onde tudo ainda é.
ainda vou à escola no depois do almoço
enquanto Renata deixa a rua vazia
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Indagação, mais nada
Do outro lado da palavra existe o quê?
o quando? o quem? o qual?
o sorriso e a angústia do pescador?
as mãos e o pânico do alpinista?
o coração que bate na sua boca?
existe o quê? se
do outro lado da palavra mora um espelho,
imagens do nada
andar vazio
o depois do incêndio.
convém?
***
a palavra não-é.
aqui escrevo sustos
impressos no meu tempo,
enquanto toda idéia é um não-saber
abro buracos em cada sentença
a palavra é minha sentença.
ela pensa, quando pensar é não-ser.
o afundar no poço de cada escolha
por quê não falo?
a palavra é arremedo, imitação, poesia.
é ponte entre mundos que não habito
onde não existo
linha de costura a nos enganar
finge cerzir o pano invisível da existência
na palavra:
sujeitos sem pátria
silêncio e labirinto
na palavra:
hei de também não existir
o quando? o quem? o qual?
o sorriso e a angústia do pescador?
as mãos e o pânico do alpinista?
o coração que bate na sua boca?
existe o quê? se
do outro lado da palavra mora um espelho,
imagens do nada
andar vazio
o depois do incêndio.
convém?
***
a palavra não-é.
aqui escrevo sustos
impressos no meu tempo,
enquanto toda idéia é um não-saber
abro buracos em cada sentença
a palavra é minha sentença.
ela pensa, quando pensar é não-ser.
o afundar no poço de cada escolha
por quê não falo?
a palavra é arremedo, imitação, poesia.
é ponte entre mundos que não habito
onde não existo
linha de costura a nos enganar
finge cerzir o pano invisível da existência
na palavra:
sujeitos sem pátria
silêncio e labirinto
na palavra:
hei de também não existir
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Decalques
A menina é o lampejo de uma promessa.
ela nunca entendeu-se
porque seu tempo-em-ser
é sempre não mais que
a sombra de um vôo
do pássaro em fuga
a menina é um tipo de
náufrago que emerge
vez ou outra no batido
oceano de suas fronteiras
ela é o susto na montanha russa
viaja indefinida na máquina-do-tempo
arrancada de seus algarismos.
e vai ao sem-fim...
um quase, em quase
todas as horas. é aquela
que brota fátua no impreciso
tempo das tentativas
notória e pálida certeza
do desejo que haverá amanhã.
ela é sombra? não.
é por isso tudo, bela.
bailarina em existência misturada
à multidão, e seu contorno
perde-se no rosto de
tudo o que vive
viva corrente no leve
e livre manuseio da linha
a cerzir impossível,
desejo e fracasso.
moça-assustada;
não é preciso não.
é isto impossível,
o espacial abismo aos teus pés
a tua virtude
cada laço encontrado
das tuas amarras é
o ninho quando
brilha teu rosto
todo tropeço
um trapésio a te
lançar ao sublime.
cada incerteza e esquina
o decalque, teus dedos
no rosto da tua tribo
você é, porque não.
e toda tua falha
te aproxima
e me aproxima
de mim
ela nunca entendeu-se
porque seu tempo-em-ser
é sempre não mais que
a sombra de um vôo
do pássaro em fuga
a menina é um tipo de
náufrago que emerge
vez ou outra no batido
oceano de suas fronteiras
ela é o susto na montanha russa
viaja indefinida na máquina-do-tempo
arrancada de seus algarismos.
e vai ao sem-fim...
um quase, em quase
todas as horas. é aquela
que brota fátua no impreciso
tempo das tentativas
notória e pálida certeza
do desejo que haverá amanhã.
ela é sombra? não.
é por isso tudo, bela.
bailarina em existência misturada
à multidão, e seu contorno
perde-se no rosto de
tudo o que vive
viva corrente no leve
e livre manuseio da linha
a cerzir impossível,
desejo e fracasso.
moça-assustada;
não é preciso não.
é isto impossível,
o espacial abismo aos teus pés
a tua virtude
cada laço encontrado
das tuas amarras é
o ninho quando
brilha teu rosto
todo tropeço
um trapésio a te
lançar ao sublime.
cada incerteza e esquina
o decalque, teus dedos
no rosto da tua tribo
você é, porque não.
e toda tua falha
te aproxima
e me aproxima
de mim
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Contenda
A prótese eletrônica
não engana nada
o encantamento
as urnas são velhas
bocas banguelas
em cíclica reinvenção
das coisas das cidades
boca faminta
devoração de desejos
mastigação autofágica
digestão...
digestão...
digestão...
barriga cheia
indigestão
nutrição-sã
intoxicação
excremento
movimento
excremento
tua cabeça alimenta
as ruas e as hienas.
e tu sabes!
então: sujeito ou salsicha?
não engana nada
o encantamento
as urnas são velhas
bocas banguelas
em cíclica reinvenção
das coisas das cidades
boca faminta
devoração de desejos
mastigação autofágica
digestão...
digestão...
digestão...
barriga cheia
indigestão
nutrição-sã
intoxicação
excremento
movimento
excremento
tua cabeça alimenta
as ruas e as hienas.
e tu sabes!
então: sujeito ou salsicha?
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Resistências
a porta é fechada.
e em toda palavra
mora um quarto escuro
o pouco das falas
não é que é a gente
mesmo. Não moça.
o silêncio é a
barriga grávida
dos nossos destinos
é um menino que
vai beber da luz e
desenganar da solidão
como em toda novena,
cada conta é um pedregulho
na aragem das mãos
cada palavra uma conta
um calo no dorso do tempo,
Parrão a me cobrar.
[madrugada na roça. escuta o eco que faz]
o silêncio é um jeito
arisco de não estar
na mira das vozes
a palavra parada
tem os olhos fechados
no esconderijo de si
e o pior cego?
aquele que tem
medo de ver
porquê o querer é
só uma bala atirada.
é sem importância.
quem manda mesmo
são outros macacos,
outras resistências
e em toda palavra
mora um quarto escuro
o pouco das falas
não é que é a gente
mesmo. Não moça.
o silêncio é a
barriga grávida
dos nossos destinos
é um menino que
vai beber da luz e
desenganar da solidão
como em toda novena,
cada conta é um pedregulho
na aragem das mãos
cada palavra uma conta
um calo no dorso do tempo,
Parrão a me cobrar.
[madrugada na roça. escuta o eco que faz]
o silêncio é um jeito
arisco de não estar
na mira das vozes
a palavra parada
tem os olhos fechados
no esconderijo de si
e o pior cego?
aquele que tem
medo de ver
porquê o querer é
só uma bala atirada.
é sem importância.
quem manda mesmo
são outros macacos,
outras resistências
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Pausas
Fumaça nos olhos: difícil escrever. É o porquê dos dias de pausa. Mas não se trata de poesia vazia, ou de sujeito calado. Não desisto das letras, tampouco temo errar nas novas regras gramaticais. Não, não. É mais...
A cidade está fria e cinza, mas é só nas aparências. Por aí os dias seguem na efervecência do tudo pode acontecer. São dias de disputas, onde tudo vale voto e projeto. Dias de sobe e desce. Dias da grande crise que temo e desejo. É um tempo de fazer escolhas, como são todos os dias.
Mas sérá que a gente se lembra mesmo que pode escolher? Será que a gente consegue ver diferenças? Que há uns e outros? Que há histórias em jogo? Que há telenovelas e romances disputando nossas cabeças?
Estes são dias para leituras. Tempo para exercitar os olhos em enxergar silêncios e contrários. Quero ver narizes a farejar velhas armadilhas. Eu quero ter um Outubro em homenagem à memória. E te convido a produzir perguntas. Vou começar:
Se a gente chamar uma rapoza de bem-te-vi, ela vai parar de roubar galinhas?
A cidade está fria e cinza, mas é só nas aparências. Por aí os dias seguem na efervecência do tudo pode acontecer. São dias de disputas, onde tudo vale voto e projeto. Dias de sobe e desce. Dias da grande crise que temo e desejo. É um tempo de fazer escolhas, como são todos os dias.
Mas sérá que a gente se lembra mesmo que pode escolher? Será que a gente consegue ver diferenças? Que há uns e outros? Que há histórias em jogo? Que há telenovelas e romances disputando nossas cabeças?
Estes são dias para leituras. Tempo para exercitar os olhos em enxergar silêncios e contrários. Quero ver narizes a farejar velhas armadilhas. Eu quero ter um Outubro em homenagem à memória. E te convido a produzir perguntas. Vou começar:
Se a gente chamar uma rapoza de bem-te-vi, ela vai parar de roubar galinhas?
domingo, 21 de setembro de 2008
Linhas-de-passe
São Paulo são esses vultos
uma porção de gente
espremida em silêncios:
a cidade está em guerra!
os manos são esquinas vazias
encruzilhadas bélicas
em eterno não ter por onde...
enquanto você goza,
covarde, canalha, finge -
você não pode ver.
enquanto compra asfalto,
limpeza, pontes, médicos de faz-de-conta,
giram metralhadoras a cuspir
palavras, porradas e pedidos
as minas explodem pisoteadas
nos corredores da linguagem fálica
- são apenas pedaços de carne
a abastecer cozinhas, latrinas
e motéis baratos; não são mulheres.
são artefatos soterrados, risco necessário
e a cidade cospe fogo
na sua constipação diária, paranóica.
veias arregaladas,
a cidade cheira e fuma
em nóia agonizante.
usa túneis para esconder rostos
e um silêncio mecânico
- olímpico -
no êxtase das linhas de produção
a cidade não existe!
São Paulo é um
continente em disputa.
campo de batalha que
arrebentou são jorges,
são bentos, são lucas...
sé-fé-roubo.
a cidade é um discurso ao avesso:
espaços, buracos, afastamento,
a cidade é salto-à-distância
São Paulo. São Paulo?
São Paulo é não compreender.
São Paulo é nossa Grande Falha
São Paulo não é uma cidade.
São Paulo é pergunta permanente,
ameaçadora.
[a imagem capturei no blog que mico, que agradeço e recomendo]
uma porção de gente
espremida em silêncios:
a cidade está em guerra!
os manos são esquinas vazias
encruzilhadas bélicas
em eterno não ter por onde...
enquanto você goza,
covarde, canalha, finge -
você não pode ver.
enquanto compra asfalto,
limpeza, pontes, médicos de faz-de-conta,
giram metralhadoras a cuspir
palavras, porradas e pedidos
as minas explodem pisoteadas
nos corredores da linguagem fálica
- são apenas pedaços de carne
a abastecer cozinhas, latrinas
e motéis baratos; não são mulheres.
são artefatos soterrados, risco necessário
e a cidade cospe fogo
na sua constipação diária, paranóica.
veias arregaladas,
a cidade cheira e fuma
em nóia agonizante.
usa túneis para esconder rostos
e um silêncio mecânico
- olímpico -
no êxtase das linhas de produção
a cidade não existe!
São Paulo é um
continente em disputa.
campo de batalha que
arrebentou são jorges,
são bentos, são lucas...
sé-fé-roubo.
a cidade é um discurso ao avesso:
espaços, buracos, afastamento,
a cidade é salto-à-distância
São Paulo. São Paulo?
São Paulo é não compreender.
São Paulo é nossa Grande Falha
São Paulo não é uma cidade.
São Paulo é pergunta permanente,
ameaçadora.
[a imagem capturei no blog que mico, que agradeço e recomendo]
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - III
O tempo não tem cabeça
nos ocupa e encarna
que é para saber pensar
será que a gente é o sonho do tempo?
lembro um filme que não assisti.
o homem era um delírio
era um homem sonhado
um tipo de sombra
amarrada a outra
existência - indisvencilhável.
pode uma sombra existir sem coisa?
o tempo sonhava o homem
a coisa sonhava o homem
a pedra pensava o tipo
o rótulo, a nota, o nada
tudo o sujeitava,
ele era diminuído de si:
um fantasma
o sujeito era só um caminho
sua vontade, outra decisão
curioso:
ele votava
ele comprava
ele elegia nos menus
ele escolhia profissão
ele crivava amizades
ele lia revistas
escolhia lados e amores
pensava que pensava
irritava-se até,
na tola certeza
do quem manda aqui sou eu
será que não sabia dos poderes do tempo?
nos ocupa e encarna
que é para saber pensar
será que a gente é o sonho do tempo?
lembro um filme que não assisti.
o homem era um delírio
era um homem sonhado
um tipo de sombra
amarrada a outra
existência - indisvencilhável.
pode uma sombra existir sem coisa?
o tempo sonhava o homem
a coisa sonhava o homem
a pedra pensava o tipo
o rótulo, a nota, o nada
tudo o sujeitava,
ele era diminuído de si:
um fantasma
o sujeito era só um caminho
sua vontade, outra decisão
curioso:
ele votava
ele comprava
ele elegia nos menus
ele escolhia profissão
ele crivava amizades
ele lia revistas
escolhia lados e amores
pensava que pensava
irritava-se até,
na tola certeza
do quem manda aqui sou eu
será que não sabia dos poderes do tempo?
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - II
Eu não conheci
a orgia dos padres
não roubei vinho
em sacristia
ou adormeci ao som
sufocado dos coroinhas
eu não atravessei
bêbado a fronteira
dos corpos amontoados
não fiz promessas
no vazio do ventre
das multidões
eu escolhi dia de chuva
para começar sapatos novos
joguei bola no morro a cima
deixei de fora o dinheiro
quando dei em comprar sentidos
eu não escalei palanques
fiz um arquivo morto de gravatas
recolhi, para perguntar das frestas
e descansei em dias de sol
agora, atravessei a rua
que levo tatuada no corpo
que é pra visitar
o outro lado de mim; e vou.
tenho lentes nos olhos
que são pra filtrar
o que desbota os dias
e procuro...
do teu medo
eu nunca fugi
tenho asas magras,
de alguma serventia
quero.
não espero
viver na tua boca
a orgia dos padres
não roubei vinho
em sacristia
ou adormeci ao som
sufocado dos coroinhas
eu não atravessei
bêbado a fronteira
dos corpos amontoados
não fiz promessas
no vazio do ventre
das multidões
eu escolhi dia de chuva
para começar sapatos novos
joguei bola no morro a cima
deixei de fora o dinheiro
quando dei em comprar sentidos
eu não escalei palanques
fiz um arquivo morto de gravatas
recolhi, para perguntar das frestas
e descansei em dias de sol
agora, atravessei a rua
que levo tatuada no corpo
que é pra visitar
o outro lado de mim; e vou.
tenho lentes nos olhos
que são pra filtrar
o que desbota os dias
e procuro...
do teu medo
eu nunca fugi
tenho asas magras,
de alguma serventia
quero.
não espero
viver na tua boca
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Palavras talheres
Era dia 11 e eu comemorava aniversário. Das mãos de um monte de gente querida, que rodaram um guardanapo e tinta verde, nasceu uma poesia assim, feita de mesa, feita em presente pra mim:
uma massa fresca
uma flor vermelha
três décadas e sóis
sete mesas geniais
mulheres grávidas
um beijo vermelho da Deise
bolo de chocolate com cinco brigadeiros
toalha te-adoro
bolinhos recheados,
de gorgonzola, nunca mais!
são paulo acolhe tudo isso
29 amigos e 15 copos de cerveja
tomates secos pisoteados
fome porre fome
agente quer comida!
direito de repetição
uns chegam outros partem
precisamos de mais
flores, de mais você.
E me entregaram, não assinaram, mas está tudo aí. Eu juro. Viva a poesia, viva-poesia. Viva o ter amigos, porque nada é mais.
uma massa fresca
uma flor vermelha
três décadas e sóis
sete mesas geniais
mulheres grávidas
um beijo vermelho da Deise
bolo de chocolate com cinco brigadeiros
toalha te-adoro
bolinhos recheados,
de gorgonzola, nunca mais!
são paulo acolhe tudo isso
29 amigos e 15 copos de cerveja
tomates secos pisoteados
fome porre fome
agente quer comida!
direito de repetição
uns chegam outros partem
precisamos de mais
flores, de mais você.
E me entregaram, não assinaram, mas está tudo aí. Eu juro. Viva a poesia, viva-poesia. Viva o ter amigos, porque nada é mais.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - I
A gente é sempre
um tanto de rio
em que não se
navegou
A gente é uma
nuvem de chuva
nos agostos do sul
a gente tem sempre
um quarto apagado
no escuro da casa
a gente é um
pedaço de história
que alguém vai narrar
a gente é quase
a gente é será.
a gente está
no depois da curva
a gente é, no suspiro.
e a gente é uma pausa
dos outros.
a gente vive.
e viver?
viver é uma vontade
um tanto de rio
em que não se
navegou
A gente é uma
nuvem de chuva
nos agostos do sul
a gente tem sempre
um quarto apagado
no escuro da casa
a gente é um
pedaço de história
que alguém vai narrar
a gente é quase
a gente é será.
a gente está
no depois da curva
a gente é, no suspiro.
e a gente é uma pausa
dos outros.
a gente vive.
e viver?
viver é uma vontade
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Constatação Tardia
Minha boca é a
nascente do rio
tudo-o-que-não-tenho
Navego em vontades
e sou aquele que só
tudo-quer-ser
Não sou, que é pra
saber existir
Não sou.
Logo, existo
Curioso...
Será que as largatixas pensam assim?
nascente do rio
tudo-o-que-não-tenho
Navego em vontades
e sou aquele que só
tudo-quer-ser
Não sou, que é pra
saber existir
Não sou.
Logo, existo
Curioso...
Será que as largatixas pensam assim?
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Torneira do tempo
hoje relampeja.
chuva? Nada
a torneira
pingava o tempo
em ladainha
eu nadava as gotas
enquanto
concebia em esperança
um rio de devaneios
e viver em vertigem
sentia na cabeça:
existir é pescar.
importa fome
e desejo
nem sempre se sabe
tanto um, quanto outro
mas hão,
emaranhados
arremeço em tempo de lesma
tatear no caladão das horas
insistir sobre a perda
recolher sabedoria e gosto.
o peixe, no às vezes
dos dias
no barranco
recolho os olhos
aqui era um dia seco.
defeso do azul
enquanto está
cada vez mais
em mim,
que toda
torneira
é um rio
que desistiu
chuva? Nada
a torneira
pingava o tempo
em ladainha
eu nadava as gotas
enquanto
concebia em esperança
um rio de devaneios
e viver em vertigem
sentia na cabeça:
existir é pescar.
importa fome
e desejo
nem sempre se sabe
tanto um, quanto outro
mas hão,
emaranhados
arremeço em tempo de lesma
tatear no caladão das horas
insistir sobre a perda
recolher sabedoria e gosto.
o peixe, no às vezes
dos dias
no barranco
recolho os olhos
aqui era um dia seco.
defeso do azul
enquanto está
cada vez mais
em mim,
que toda
torneira
é um rio
que desistiu
domingo, 17 de agosto de 2008
Preparos
Pela manhã
sua mãe
o aconselhava
lavar os olhos
- Dord'oooolho! Ela dizia.
Tempos depois
entendeu
que o sono
lhe calibrava
o olhar,
coisa que a água fria
despertava todo dia.
- Dord'olho é não enxergar! Ele dizia.
sua mãe
o aconselhava
lavar os olhos
- Dord'oooolho! Ela dizia.
Tempos depois
entendeu
que o sono
lhe calibrava
o olhar,
coisa que a água fria
despertava todo dia.
- Dord'olho é não enxergar! Ele dizia.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Pedaço-em-pergunta
O que há do outro lado da minha boca?
De onde vem a palavra?
Onde vou, quando não estou aqui?
Quem fala na minha poesia?
Onde desapareço?
Quem grita no meu silêncio?
Quem me vê do espelho?
O que nasceria dos meus abortos?
Quem é o roteirista dos sonhos?
O que é o avesso da palavra?
Faço? Sou feito? Me faço?
De onde vem a palavra?
Onde vou, quando não estou aqui?
Quem fala na minha poesia?
Onde desapareço?
Quem grita no meu silêncio?
Quem me vê do espelho?
O que nasceria dos meus abortos?
Quem é o roteirista dos sonhos?
O que é o avesso da palavra?
Faço? Sou feito? Me faço?
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Não
Um tempo
à beira das horas
nonada do mundo
esquecido de estrada
palavra e disposição
levar borracha do bolso
em apagar a tendência
feito a ave-maria
lusco-fusco em solidão
ser feito d'água
em diluir
tal bruta concentração
e acordar comigo
parir minha vez
na palavra que evito
esse avesso do sim
estranho raro
estrangeiro: não
à beira das horas
nonada do mundo
esquecido de estrada
palavra e disposição
levar borracha do bolso
em apagar a tendência
feito a ave-maria
lusco-fusco em solidão
ser feito d'água
em diluir
tal bruta concentração
e acordar comigo
parir minha vez
na palavra que evito
esse avesso do sim
estranho raro
estrangeiro: não
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Canto de espera
passa o quero-quero
que tanto quer
esse pássaro,
isso crucificado
grita-sem-coisa
voa sem porto
quero-quero-quero
que tanto traduz o mundo
tudo ela aquilo tanta gente
quero-quero-quero
aveamplificador
teu bico é um balcão
fila de náufragos
teu vôo arremessa
bocas fechadas
gente-que-não
quero-quero-quero
pássaro vagão de desejo: vai
eu vi a fome tua alma
em incessante tentativa
quero-quero-quero
tu és tanto silêncio
teu nome é distância
teu nome é não posso
teu nome é não tenho
teu nome é cadê
teu nome é
ave-
quero-quero-quero
que tanto quer
esse pássaro,
isso crucificado
grita-sem-coisa
voa sem porto
quero-quero-quero
que tanto traduz o mundo
tudo ela aquilo tanta gente
quero-quero-quero
aveamplificador
teu bico é um balcão
fila de náufragos
teu vôo arremessa
bocas fechadas
gente-que-não
quero-quero-quero
pássaro vagão de desejo: vai
eu vi a fome tua alma
em incessante tentativa
quero-quero-quero
tu és tanto silêncio
teu nome é distância
teu nome é não posso
teu nome é não tenho
teu nome é cadê
teu nome é
ave-
quero-quero-quero
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Machado
andava raso, no vesgo da luz
um machado pendia nas mãos.
o silêncio ponto do pássaro
fazia um tanto calor semfim.
e o tempo ia torto, sem sopro
de um sol promovido a doutor.
entre lembranças verdes, o,
casmurro na sombra minguada.
esqueceu-se do trem, amolecou-se
anoiteceu em ver quinquas borba
um machado pendia nas mãos.
o silêncio ponto do pássaro
fazia um tanto calor semfim.
e o tempo ia torto, sem sopro
de um sol promovido a doutor.
entre lembranças verdes, o,
casmurro na sombra minguada.
esqueceu-se do trem, amolecou-se
anoiteceu em ver quinquas borba
domingo, 3 de agosto de 2008
Ensaios sobre o ver - 08
...
eu sonho...
na máquina
dos olhos
aquilo que
me opera.
tempos feito
engrenagem
passagens do
dentro e fora
hora-a-hora
abandonadas:
deixo as separações
à máquina
não se engana
inteiras plenas
percepções.
chega
até onde faltam
meus pensamentos
entende
no onde
escapo calo
minha voz
máquina-do-tempo
os olhos
do sem contorno
eterna partida
e retorno
em direção
à matilha de mim
na máquina
dos olhos
aquilo que
me opera.
tempos feito
engrenagem
passagens do
dentro e fora
hora-a-hora
abandonadas:
deixo as separações
à máquina
não se engana
inteiras plenas
percepções.
chega
até onde faltam
meus pensamentos
entende
no onde
escapo calo
minha voz
máquina-do-tempo
os olhos
do sem contorno
eterna partida
e retorno
em direção
à matilha de mim
[a imagem que acompanha a poesia conheço por máquina-do-corpo e foi gentilmente cedida por André Brandão: http://www.andrebrandao.com/]
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Comentários a El Gran Masturbador
entardece o dia em tímidos vermelhos,
meu rosto pálido curado no tempo seco
é um fruto no tronco em infinito inverno
toca um vento amarelo os olhos,
dias e noites me emprestam espíritos
quando sou nada mais do que respiro
deserto, meu corpo é uma ampulheta
cíclica, máquina-do-tempo sem fim
máquina-de-areia em uma obra infinita
caçador que aprisionou um coração
engaiolado e pulsante, memória do
dia que vai surgir na curva das horas
o rosto é também medo da serpente
pesadelo adotado da infância tribal
sedução e vaidade que é e assombra
e a tudo devoram as águas do tempo.
nao há tanto assim no largo horizonte
e minha palavra é um barco-besouro.
procuro, logo existo. Sou essa busca
soprada de escuta em escuta, olhar em olhar
entre portos que não ouso, talvez, ancorar
[tentativa de diálogo entre auto-retratos: Dali]
meu rosto pálido curado no tempo seco
é um fruto no tronco em infinito inverno
toca um vento amarelo os olhos,
dias e noites me emprestam espíritos
quando sou nada mais do que respiro
deserto, meu corpo é uma ampulheta
cíclica, máquina-do-tempo sem fim
máquina-de-areia em uma obra infinita
caçador que aprisionou um coração
engaiolado e pulsante, memória do
dia que vai surgir na curva das horas
o rosto é também medo da serpente
pesadelo adotado da infância tribal
sedução e vaidade que é e assombra
e a tudo devoram as águas do tempo.
nao há tanto assim no largo horizonte
e minha palavra é um barco-besouro.
procuro, logo existo. Sou essa busca
soprada de escuta em escuta, olhar em olhar
entre portos que não ouso, talvez, ancorar
[tentativa de diálogo entre auto-retratos: Dali]
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Notas simples aos reis daí
suas cabeças levam pedras
a cidade é um velho leão
atormentado em insônia. sonha
a zebra que não pode mais
a savana é a tela calada
nos labirintos gélidos museus
e toda noite é agonia quando
a força fermenta-se em medo
um muro abriu salas falantes
onde havia antes adagas cegas
e o vapor dos grilhões sublimados
também apodreceu armaduras
refluxo e mistura pelas ruas
navegações invertidas, e a
nação em desespero ao
ser descoberta; riso ao avesso
aqui, tudo o que é de pedra
já está inventado e firme
até as idéias e rebeldias
são colossos prédios, quadros, bustos
que se leva daqui, então?
não é assim descobrir?
deixar pegadas na carne
arrancar o valor em pó?
não. não vive nas contas
o conto que nos interessa
sob as saias, vozes e pressa
o reino transborda desejos
meu reino, por não ter medo
meu reino, por haver tentativa
meu reino, para que exista reino
meu reino, para que eu tenha lugar!
assim gritam seus sussuros
enquanto Madrid sustenta
muralhas e defende seu feudo,
seus flancos e a sua vertigem
porque há cabeças
que não se querem pedras
há leões em um balé surreal, assustados
surpresos com o terno abraço das zebras
a cidade é um velho leão
atormentado em insônia. sonha
a zebra que não pode mais
a savana é a tela calada
nos labirintos gélidos museus
e toda noite é agonia quando
a força fermenta-se em medo
um muro abriu salas falantes
onde havia antes adagas cegas
e o vapor dos grilhões sublimados
também apodreceu armaduras
refluxo e mistura pelas ruas
navegações invertidas, e a
nação em desespero ao
ser descoberta; riso ao avesso
aqui, tudo o que é de pedra
já está inventado e firme
até as idéias e rebeldias
são colossos prédios, quadros, bustos
que se leva daqui, então?
não é assim descobrir?
deixar pegadas na carne
arrancar o valor em pó?
não. não vive nas contas
o conto que nos interessa
sob as saias, vozes e pressa
o reino transborda desejos
meu reino, por não ter medo
meu reino, por haver tentativa
meu reino, para que exista reino
meu reino, para que eu tenha lugar!
assim gritam seus sussuros
enquanto Madrid sustenta
muralhas e defende seu feudo,
seus flancos e a sua vertigem
porque há cabeças
que não se querem pedras
há leões em um balé surreal, assustados
surpresos com o terno abraço das zebras
Desenhos na Madrid-Vieja
uma linha
risca a tua rua
no papel, uma vírgula
a tua lua
reticências
para que eu seja tua...
inspiração
interjeição
interpretação
só apareço
se escreves
sou quando
tu queres
uma janela
uma saudade
uma metade inventada
um sentido
escondido, um suspiro
em tua oração
risca a tua rua
no papel, uma vírgula
a tua lua
reticências
para que eu seja tua...
inspiração
interjeição
interpretação
só apareço
se escreves
sou quando
tu queres
uma janela
uma saudade
uma metade inventada
um sentido
escondido, um suspiro
em tua oração
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Hipercidade
Uma moça sonha a cidade
desperta uma colméia confusa
ladrilhada em desejos coloridos,
é operária em um carrocel metálico
e não entende nada
Barcelona entorpeceu seus olhos
ela rodopia, fala, enfeita-se
que é pra se esquecer engrenagem,
desentender-se
No espelho, sou sua outra
me apavoro lendo sombras.
a rua é ruína
a cidade borra
um resto de pele do seu rosto
enquanto devora gente
a rua é muralha milenar, militar
a cidade engole
planos, telas e cores
enquanto desinventa-se em igual a tudo
toda criação se inverte
objeto.
o afeto é um bibelô
o grito um pinduricalho
e as cores
são não mais
que o sorvete lambido
em roletas, filas e fotografias
os ônibus são cúbicos
o metrô é um cilindro opaco
as salas têm poros em
todos os ângulos,
mas Picasso, onde vai?
quem passa o tempo
adormecido nos ventres de Gaudi?
quem mergulha nos infinitos
traços de Miró?
Não, a menina patina
nos corredores da hipercidade
e não conhece os outros lados
do seu rosto. o gato comeu seus olhos
seus?
O que é seu nessa cidade?
o segredo que não conheço?
o quase-vazio do inverno?
sua língua, seus vizinhos, suas praças, seus tapas?
as varandas, os jornais, mini-saias, os seus pães?
construções?
suas carnes, seus cafés, suas danças ou o
sangue que escorre nas taças?
touradas? Valentia, camarões?
tanto que ocupa suas gôndolas
que a moça se move plégica.
não há canto
na erupção das moedas
ela não vê seu talvez,
é o corno no
Decamerão.
é Cândido; Benjamim.
ela não conhece
quem a governa
mas não se importa
Barcelona é imponente,
nova cidade-estado,
é auto,
é em si,
é convergência e vitrine,
e pulsa
nela, o coração de um rei vai
traduzido em coração de touro
bicho apressado pelas ruas
cada vez menos ruas
cada vez mais paredes
até...
desperta uma colméia confusa
ladrilhada em desejos coloridos,
é operária em um carrocel metálico
e não entende nada
Barcelona entorpeceu seus olhos
ela rodopia, fala, enfeita-se
que é pra se esquecer engrenagem,
desentender-se
No espelho, sou sua outra
me apavoro lendo sombras.
a rua é ruína
a cidade borra
um resto de pele do seu rosto
enquanto devora gente
a rua é muralha milenar, militar
a cidade engole
planos, telas e cores
enquanto desinventa-se em igual a tudo
toda criação se inverte
objeto.
o afeto é um bibelô
o grito um pinduricalho
e as cores
são não mais
que o sorvete lambido
em roletas, filas e fotografias
os ônibus são cúbicos
o metrô é um cilindro opaco
as salas têm poros em
todos os ângulos,
mas Picasso, onde vai?
quem passa o tempo
adormecido nos ventres de Gaudi?
quem mergulha nos infinitos
traços de Miró?
Não, a menina patina
nos corredores da hipercidade
e não conhece os outros lados
do seu rosto. o gato comeu seus olhos
seus?
O que é seu nessa cidade?
o segredo que não conheço?
o quase-vazio do inverno?
sua língua, seus vizinhos, suas praças, seus tapas?
as varandas, os jornais, mini-saias, os seus pães?
construções?
suas carnes, seus cafés, suas danças ou o
sangue que escorre nas taças?
touradas? Valentia, camarões?
tanto que ocupa suas gôndolas
que a moça se move plégica.
não há canto
na erupção das moedas
ela não vê seu talvez,
é o corno no
Decamerão.
é Cândido; Benjamim.
ela não conhece
quem a governa
mas não se importa
Barcelona é imponente,
nova cidade-estado,
é auto,
é em si,
é convergência e vitrine,
e pulsa
nela, o coração de um rei vai
traduzido em coração de touro
bicho apressado pelas ruas
cada vez menos ruas
cada vez mais paredes
até...
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Mariscal
Pelas praias, pelos pratos de Valencia, tantas conchas. Penso ter me lembrado Neruda, o oceano de palavras do poeta. Em dias em que falar é permanente invenção, escrevi...
Minhas palavras
são minhas conchas
sou carne assustada
na casca das minhas frases
meu grito é esqueleto
e toda argumentação
minhas cápsulas
escrevo as linhas
curvas do meu corpo
torto o meu útero
onde capturo oceanos
minha boca cospe
ossos no caes
onde ancoras faminta
minha língua calcifica
petrifica as sílabas-górgonas
que se enlaçam em tuas redes
meu grito é então pérola
antígeno a preparar
primavera nas tuas mãos
minha prosa me esconde
tu me invertes
me fecho
enquanto o vapor cáustico do
teu desejo me descola
faço um segredo, me calo
tu és o estupro consentido
os dedos que me estragam de assalto
eu faço voto, estaciono, me asseguro, escondo
tu és o pote fervente, o óleo escuro
que me dissolve
eu me encaixo, adormeço na trama
de corais serpentes minhas certezas
tu me distraes, em tapas corta
minhas linhas me faz presa flácida
eu falo, tu me alucinas
eu falo, tu me exterminas
eu falo:
casco férrico
pele pétrea
alma plúmbica
produzo palavra sólida
enquanto oras um caldeirão
em que me esqueço máquina
e lápide
mergulho em ti pra me lembrar
conversa, bossa, plá...
mergulho e flutuo pra me lembrar
que sou antes qualquer palavra
tudo, barata, ave, nada
gente, oco, água, pouco
sou alfabeto
plano e buraco, sou quase.
sei o gosto de ser
qualquer palavra
e sou também ensaio
letras nas mãos de um menino
sou armação, quebra-cabeça, carta-de-amor
rabisco e palavrão,
sou pixação, exo-vontade
sou palavra
que me fala, em
qualquer possibilidade
Minhas palavras
são minhas conchas
sou carne assustada
na casca das minhas frases
meu grito é esqueleto
e toda argumentação
minhas cápsulas
escrevo as linhas
curvas do meu corpo
torto o meu útero
onde capturo oceanos
minha boca cospe
ossos no caes
onde ancoras faminta
minha língua calcifica
petrifica as sílabas-górgonas
que se enlaçam em tuas redes
meu grito é então pérola
antígeno a preparar
primavera nas tuas mãos
minha prosa me esconde
tu me invertes
me fecho
enquanto o vapor cáustico do
teu desejo me descola
faço um segredo, me calo
tu és o estupro consentido
os dedos que me estragam de assalto
eu faço voto, estaciono, me asseguro, escondo
tu és o pote fervente, o óleo escuro
que me dissolve
eu me encaixo, adormeço na trama
de corais serpentes minhas certezas
tu me distraes, em tapas corta
minhas linhas me faz presa flácida
eu falo, tu me alucinas
eu falo, tu me exterminas
eu falo:
casco férrico
pele pétrea
alma plúmbica
produzo palavra sólida
enquanto oras um caldeirão
em que me esqueço máquina
e lápide
mergulho em ti pra me lembrar
conversa, bossa, plá...
mergulho e flutuo pra me lembrar
que sou antes qualquer palavra
tudo, barata, ave, nada
gente, oco, água, pouco
sou alfabeto
plano e buraco, sou quase.
sei o gosto de ser
qualquer palavra
e sou também ensaio
letras nas mãos de um menino
sou armação, quebra-cabeça, carta-de-amor
rabisco e palavrão,
sou pixação, exo-vontade
sou palavra
que me fala, em
qualquer possibilidade
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Plaza Miracle
Doze vezes despertei
em lençóis azul-claro
dobram os sinos em mãos
sobre meus cabelos, na
Plaza Miracle del Mocaoret
uma badalada e bebo
a José Marti libertador
outra baladada
aos homens-peixe no leito do rio
outra ao tempo
que adormeçeu na calçada
outra ao vinho
solvente de toda certeza
outra à noite
que desencoraja gente apressada
outra às putas
que semeiam flores na cidade
outra aos tapas
por devorarem a fome
outra aos loucos
a romper gaiolas dentro de mim
outra aos barcos
semeadores das lonjuras do mar
outra ao verão
fogueira ardente sobre nós
outra a estas ruas,
trama de linhas
urbanas com que
costuro poemas
e a décima segunda,
badalada aos
amigos e amores,
porque rabiscam
pelos tampos das mesas
os melhores traços
do meu rosto
em lençóis azul-claro
dobram os sinos em mãos
sobre meus cabelos, na
Plaza Miracle del Mocaoret
uma badalada e bebo
a José Marti libertador
outra baladada
aos homens-peixe no leito do rio
outra ao tempo
que adormeçeu na calçada
outra ao vinho
solvente de toda certeza
outra à noite
que desencoraja gente apressada
outra às putas
que semeiam flores na cidade
outra aos tapas
por devorarem a fome
outra aos loucos
a romper gaiolas dentro de mim
outra aos barcos
semeadores das lonjuras do mar
outra ao verão
fogueira ardente sobre nós
outra a estas ruas,
trama de linhas
urbanas com que
costuro poemas
e a décima segunda,
badalada aos
amigos e amores,
porque rabiscam
pelos tampos das mesas
os melhores traços
do meu rosto
Una vieja en el tiempo
¿son todos bailarines?
preguntó la madre
que iba en sueños
por las horas de la tarde
Y le dije, no.
No, Helena.
están solo bebidos
de infinitas botellas de tiempo colorido.
- ahora lo tienen...
Y me miré a mi, sorpreso
Y le dije, sí.
Sí, vieja,
bailarines en sus
pequeñas cajas musicales.
se hay un sonido de vida
flutuan en
noches de sol.
quieren todo de si
y vuelan plasticos,
están enamorados, vieja.
enamorados por
el verano de aquí
preguntó la madre
que iba en sueños
por las horas de la tarde
Y le dije, no.
No, Helena.
están solo bebidos
de infinitas botellas de tiempo colorido.
- ahora lo tienen...
Y me miré a mi, sorpreso
Y le dije, sí.
Sí, vieja,
bailarines en sus
pequeñas cajas musicales.
se hay un sonido de vida
flutuan en
noches de sol.
quieren todo de si
y vuelan plasticos,
están enamorados, vieja.
enamorados por
el verano de aquí
terça-feira, 15 de julho de 2008
Nas janelas da cidade
Em qualquer janela
se dependura um adeus
enquanto os livros
são guarda-lágrimas
todo oceano é um
delírio da terra
e os pratos de sopa
teus sorrisos que afoguei
tenho uma tristeza: vos digo
um amor elástico a
percorrer meu corpo
feito um elevador vazio
assim está. escuro.
o silêncio é longe
é a cidade Chernobil
em construções paradas.
lá, a única coisa viva é o tempo
ele passa,
faz os sonhos
em poeira pálida
e me apequena
todo amor
é radioativo,
e permanente;
perco pedaços
longe de ti.
terminará?
mas os mares
trabalham lento
em dissolver a terra
em toda janela
há também espera.
e os cabelos brancos
das casas, ao vento
mediterrâneo
fazem verão
em confiança
todo vulcão é
terra que se
pensa fogo
todo barro é
já desespero
são não mais
que quases.
então
não sei bem
as esperas.
viver em estado
de hemorragia,
pulso, pulso, pulso
nem sempre é quase-bom
que toda explosão
é também
paciência:
vontade é espera
certeza é medo
silêncio é desejo
saudade é verdade
distância é promessa
e o tempo
passa.
passa pássaro
passa longe
passa à quando
passa à quase
passa agora
passa à nada
se dependura um adeus
enquanto os livros
são guarda-lágrimas
todo oceano é um
delírio da terra
e os pratos de sopa
teus sorrisos que afoguei
tenho uma tristeza: vos digo
um amor elástico a
percorrer meu corpo
feito um elevador vazio
assim está. escuro.
o silêncio é longe
é a cidade Chernobil
em construções paradas.
lá, a única coisa viva é o tempo
ele passa,
faz os sonhos
em poeira pálida
e me apequena
todo amor
é radioativo,
e permanente;
perco pedaços
longe de ti.
terminará?
mas os mares
trabalham lento
em dissolver a terra
em toda janela
há também espera.
e os cabelos brancos
das casas, ao vento
mediterrâneo
fazem verão
em confiança
todo vulcão é
terra que se
pensa fogo
todo barro é
já desespero
são não mais
que quases.
então
não sei bem
as esperas.
viver em estado
de hemorragia,
pulso, pulso, pulso
nem sempre é quase-bom
que toda explosão
é também
paciência:
vontade é espera
certeza é medo
silêncio é desejo
saudade é verdade
distância é promessa
e o tempo
passa.
passa pássaro
passa longe
passa à quando
passa à quase
passa agora
passa à nada
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Madre Angústia: vai-te.
velha senhora
conquistado pátio
vapor-de-lágrima
lástima muralha
tuas veias secas
ilhas-de-solidão
fome solar
mastigado homem
vale teu dia
um troço de pão
teu pedaço de
gente é pedra
areia o teu útero
laqueado ao tempo
tu, que aprendes?
nada?
navalhas nas mãos
na amarra
alguma tentação?
velha rolha
ressecada
a tua vida
vinagre vencido
e tuas tripas
ratos-de-tróia
a rasgarem-te
devoram-te
enquanto
devora-me
velha senhora
sentido velho
cloaca
vai-te de mim
feito um
carnaval de insônia
que prepara
rasga apogeu
resiste, mas
engasga
encolhe, morre
em cinza mijada
vai-te velha
bruxa cansada
agora não.
agora eu quero
corro, durmo
falo, disparo
devoro o tempo.
devoto
das noites
valencianas
conquistado pátio
vapor-de-lágrima
lástima muralha
tuas veias secas
ilhas-de-solidão
fome solar
mastigado homem
vale teu dia
um troço de pão
teu pedaço de
gente é pedra
areia o teu útero
laqueado ao tempo
tu, que aprendes?
nada?
navalhas nas mãos
na amarra
alguma tentação?
velha rolha
ressecada
a tua vida
vinagre vencido
e tuas tripas
ratos-de-tróia
a rasgarem-te
devoram-te
enquanto
devora-me
velha senhora
sentido velho
cloaca
vai-te de mim
feito um
carnaval de insônia
que prepara
rasga apogeu
resiste, mas
engasga
encolhe, morre
em cinza mijada
vai-te velha
bruxa cansada
agora não.
agora eu quero
corro, durmo
falo, disparo
devoro o tempo.
devoto
das noites
valencianas
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Já vou
vou,
deixo-te
em elegância
de orvalho
adeus leve
sonolento
sereno
sobre nós
eu? quase-exilado
abraço distâncias
encolho permanente
entre o que
terra e brisa
deposito-me
e sigo
líquido petrificado
aceno último
porque vou,
não sou terra
tampouco outro
calo do tempo
nas nossas mãos
calo do quase
calo o amor
deixo-te
em elegância
de orvalho
adeus leve
sonolento
sereno
sobre nós
eu? quase-exilado
abraço distâncias
encolho permanente
entre o que
terra e brisa
deposito-me
e sigo
líquido petrificado
aceno último
porque vou,
não sou terra
tampouco outro
calo do tempo
nas nossas mãos
calo do quase
calo o amor
Inventar palavras
Gosto de invenção de palavras
plenitudiná-las
no quando quero
fosse assim um
pescador de sentidos
saia pelo mar
em dias claros
anzol sem isca
na persistência...
e vem. Cada palavra bonita:
desilusão
vindima
caes
orvalho
silêncio
saudade
produção
invisível
contrário
enxergamento
amargura
amor-a-pinceladas
e vem. Tudo enroscado
tanta coisa
plenitude nonada
e vou.
eu,
pescador de palavras
plenitudiná-las
no quando quero
fosse assim um
pescador de sentidos
saia pelo mar
em dias claros
anzol sem isca
na persistência...
e vem. Cada palavra bonita:
desilusão
vindima
caes
orvalho
silêncio
saudade
produção
invisível
contrário
enxergamento
amargura
amor-a-pinceladas
e vem. Tudo enroscado
tanta coisa
plenitude nonada
e vou.
eu,
pescador de palavras
Espelho mágico
rosa
abre
tudo
solo
azul
anil
mago
vivo
sabe
dose
cena
fala
pena
vejo
tudo
doer
riso
cura
vida
pura
para
olha
mais
para
você
amor
olha
mais
para
você
amor
!!!!
abre
tudo
solo
azul
anil
mago
vivo
sabe
dose
cena
fala
pena
vejo
tudo
doer
riso
cura
vida
pura
para
olha
mais
para
você
amor
olha
mais
para
você
amor
!!!!
Meta-poesia 06
O que te ofereço
é leitura
linguagem em produção
nada aqui se faz
feito ícone
demarcação
o texto possível
é o texto em sombra
sabido do seu tamanho
escrever é também
produzir pegadas
tatuar a pele do livro
a sua retina
estrondo contido
em cada recorte íntimo
nossa singularidade
arremessada a cada
linha experimento
penso em auto-convite
auto-provocação
autorização ao risco
embate e contraposição
a imagem do mundo reificado
destruir pela subjetivação
autorizo-me
autorizo contraposições
fundar imagens
auto-imagens em
toda posição, e
tratar a palavra
feito lobisomem
meio-do-caminho
a poesia descentrada
desconcentrada
linha em fuga
homens e lobos
conflito e
confrontação
é leitura
linguagem em produção
nada aqui se faz
feito ícone
demarcação
o texto possível
é o texto em sombra
sabido do seu tamanho
escrever é também
produzir pegadas
tatuar a pele do livro
a sua retina
estrondo contido
em cada recorte íntimo
nossa singularidade
arremessada a cada
linha experimento
penso em auto-convite
auto-provocação
autorização ao risco
embate e contraposição
a imagem do mundo reificado
destruir pela subjetivação
autorizo-me
autorizo contraposições
fundar imagens
auto-imagens em
toda posição, e
tratar a palavra
feito lobisomem
meio-do-caminho
a poesia descentrada
desconcentrada
linha em fuga
homens e lobos
conflito e
confrontação
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Ensaios sobre o ver - 02
entre tantas
poças estéticas
a moça
contraiu cegueira
pior é que
nas suas casas,
tantas,
tão burguesas
não lhe permitiam
cão. Não! Nada
que lhe pudesse
despertar a alma
por isso parou
calada, pregada
triste boca cheia
enquanto
lati lá fora
poças estéticas
a moça
contraiu cegueira
pior é que
nas suas casas,
tantas,
tão burguesas
não lhe permitiam
cão. Não! Nada
que lhe pudesse
despertar a alma
por isso parou
calada, pregada
triste boca cheia
enquanto
lati lá fora
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Elogio ao encontro
Te encontro, nu, feito amantes, feito antes, antes de tudo, de toda separação. Porque quero tua inteireza e a tua compreensão. Pela distância nos sabemos, já - e basta. Sobrevivemos em um quase se acostuma. Hoje eu digo não porque é outro tempo que escreveremos juntos. Chove uma segunda-feira em que somos desprovidos de afastação. Antes te ouvi, agora quero as tuas partituras; as minhas são tuas. Nossas leituras, onde desatino, onde desafinas, minhas pausas e tua dissonância em outra experimentação. E mais. Do fogo que pensei em nunca haver em mim, lá escondidos todos os meus outros sentidos, coloco-me a tua disposição. Da terra, do que não te depreendes, tuas raízes profundas mistérios invioláveis, te quero livre em disposição. E aéreos, inspirados, abraçados sob a luz que inflama olhos e escurece nucas, nos quero meditação, em troca, permuta de corações desanestesiados, interessados nas horas. Nos quero água em movimentação. Por que aqui sabemos um tempo de ser. A gente promovido do ontem e do amanhã pintores em composição. Lançados em leituras do mundo, a estudar existências no tudo aquilo que ocupa e há. Cada nossa desimportância tensão inimigo desgosto despreso insônia, cada miséria e cada abundância, as marés, entre estarem e não. Assim me apresento: barato, pronto, desejoso de ti. Assim te espero, na maravilha de quando a gente escolhe um para onde e de que jeito olhar. Hoje te encontro minha companheira. Porque morrer são planos, e viver é questão de agoras.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Balanço
aconteci no mar
porque um
quase-eu
se assenta
na terra
marujo a
evitar o caes
barco a ignorar
faróis
âncora desgarrada
navegar,
porque ser
é impreciso
porque um
quase-eu
se assenta
na terra
marujo a
evitar o caes
barco a ignorar
faróis
âncora desgarrada
navegar,
porque ser
é impreciso
Nega
Salve, salve realeza leitora. Meu pai, que também arrisca-se em devaneios poéticos com codinomes variados, me enviou poesia para uma moça chamada Nega. Carreguei-me de dúvidas sobre que negação é essa, esse permanente estado-de-não que alguém carrega no nome. O que a Nega nega? O fato é que a poesia aí está para suas próprias impressões...
Nega
tudo o que não foi
é tudo:
vontades contadas nos dedos
medos
e nãos
são elos,
corrente arrastada,
(im)possíveis sonhos
sujas de terra
(as mãos)
ainda sulcam,
plantam
trançam ilusões
em cabelos de espigas
Nega
tudo o que não foi
é tudo:
vontades contadas nos dedos
medos
e nãos
são elos,
corrente arrastada,
(im)possíveis sonhos
sujas de terra
(as mãos)
ainda sulcam,
plantam
trançam ilusões
em cabelos de espigas
terça-feira, 24 de junho de 2008
Alice: é você?
ali se comia ratos
alice pensava doces
ali se bebia sangue
alice sorria cores
ali se ferrava
alice sonhava
ali se matava
alice assistia
alucinado tempo
alucinante ilusão
alice alucinação
ali luciferificação
dizia-se porrada
dizia coração
dizia-se estupra
dizia uma cansão
ali se perdia
alice sensação
ali se fazia
alice alienação
aliste-se menina.
alice ali se perderia?
caralho.
demora, eu sei
toma vidas, toma tardes, toma tempo
mas não tarda alice
ali, se tocar
aliciar-se
acordar em
escolher contradição
alice pensava doces
ali se bebia sangue
alice sorria cores
ali se ferrava
alice sonhava
ali se matava
alice assistia
alucinado tempo
alucinante ilusão
alice alucinação
ali luciferificação
dizia-se porrada
dizia coração
dizia-se estupra
dizia uma cansão
ali se perdia
alice sensação
ali se fazia
alice alienação
aliste-se menina.
alice ali se perderia?
caralho.
demora, eu sei
toma vidas, toma tardes, toma tempo
mas não tarda alice
ali, se tocar
aliciar-se
acordar em
escolher contradição
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Sinthoma-poesia
Minha poesia é sinthoma
vertigem no pensamento
eu vomito frases e interrogo
onde tucanos almoçam silêncios
só as putas sabem os homens
quem a eles confessa buracos
bebe rios de oca intimidade
infinita força de quem escuta
é. mas hoje...
hoje é outra sexta-feira
ora manejo gostos perdidos
o tempo assalta ancoragens
a encher de palavras a funda
as quero composição lancinante
tudo esparrama na landa de agora
a ver se o sol faz de surra e pancada
o marulho deste texto deixado
é. mas hoje...
hoje é outro dia
de palavrear rebentos, rebentos, rebentos
vertigem no pensamento
eu vomito frases e interrogo
onde tucanos almoçam silêncios
só as putas sabem os homens
quem a eles confessa buracos
bebe rios de oca intimidade
infinita força de quem escuta
é. mas hoje...
hoje é outra sexta-feira
ora manejo gostos perdidos
o tempo assalta ancoragens
a encher de palavras a funda
as quero composição lancinante
tudo esparrama na landa de agora
a ver se o sol faz de surra e pancada
o marulho deste texto deixado
é. mas hoje...
hoje é outro dia
de palavrear rebentos, rebentos, rebentos
Marcadores:
fragmentos,
meta-poesia,
política,
urbanismos
terça-feira, 17 de junho de 2008
Opa-cidade
os prédios ameaçam Deus
enquanto flores
despencam em janelas cerradas
toda torre arde
como setembro
e a cidade, finalmente,
inten-cidade
cumpre-se
em rios metálicos açoreados
e destina-se em
crepúsculos cinza
futuriza-se em árvores plásticas
gente pálida
em turbilhonada existência
cidade-angústia, cidade-máquina, seca cidade
analcidade feita em desejo estético
corpo invadido
cisão política.
a pólis reinventa éticas
mastiga meus ouvidos quando
cospe palavrões em muros pixados
gente espalhada
em tanta periférica existência
tanta concentração: opacidade
minha cidade é susto
e ameaça
humana ratoeira a esconder
sorrisos tímidos
gente roída se debate
onde não há mais
nada
tudo é terra ocupada
tempo ocupado
em cabeças sem teto, sem terra, sem tento e ternura
a cidade são buracos
correria, grito, porrada
enxurrada e capital
invencível cidade
sob avermelhado céu
taquicárdicas tentativas
em fabricar sentidos
no todo dia.
[a imagem que acompanha a poesia conheço por cidade sp e foi gentilmente cedida por André Brandão: http://www.andrebrandao.com/]
enquanto flores
despencam em janelas cerradas
toda torre arde
como setembro
e a cidade, finalmente,
inten-cidade
cumpre-se
em rios metálicos açoreados
e destina-se em
crepúsculos cinza
futuriza-se em árvores plásticas
gente pálida
em turbilhonada existência
cidade-angústia, cidade-máquina, seca cidade
analcidade feita em desejo estético
corpo invadido
cisão política.
a pólis reinventa éticas
mastiga meus ouvidos quando
cospe palavrões em muros pixados
gente espalhada
em tanta periférica existência
tanta concentração: opacidade
minha cidade é susto
e ameaça
humana ratoeira a esconder
sorrisos tímidos
gente roída se debate
onde não há mais
nada
tudo é terra ocupada
tempo ocupado
em cabeças sem teto, sem terra, sem tento e ternura
a cidade são buracos
correria, grito, porrada
enxurrada e capital
invencível cidade
sob avermelhado céu
taquicárdicas tentativas
em fabricar sentidos
no todo dia.
[a imagem que acompanha a poesia conheço por cidade sp e foi gentilmente cedida por André Brandão: http://www.andrebrandao.com/]
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Para os dias comuns
toda pressa reprime
um silêncio
enquanto ponteiros
sequestram corações
o asfalto falseia
os contornos do tempo
e de solidão ninguém
se orgulha nas madrugadas
um dia é uma coleção
de vontades
braços quentes,
arremedo de útero
enquanto o cais
é um covarde viajante
toda invenção é aragem
em pulmões inférteis
toda poesia é lamento
êxtase e aparição
um silêncio
enquanto ponteiros
sequestram corações
o asfalto falseia
os contornos do tempo
e de solidão ninguém
se orgulha nas madrugadas
um dia é uma coleção
de vontades
braços quentes,
arremedo de útero
enquanto o cais
é um covarde viajante
toda invenção é aragem
em pulmões inférteis
toda poesia é lamento
êxtase e aparição
terça-feira, 10 de junho de 2008
Amor-retirante
amor retirante
existência oprimida
ajoelhada e desvalida
ressequida terra
pedaço escarrado e
rejeitado do teu
ser-latifúndio
no medonho
amargado do gosto
o silêncio forçado
amor vigiado
na espreita
do jagunço armado
capitão-do-mato
amor capturado
retirante da fé
pedreira e caminho perdido
desorizontado e tonto
tornado à tapera isolada
porque se há, no onde,
sinal minguado
da chuva chegando
como se o quase fosse
a promessa
em fazer terra nova
nova propriedade
a receber sementes
que não podem
nunca
amor retirante
acariciando os contos
do terço, amor beato
dependurado em novenas
confiado, resistente
a ser amor desenganado
amor empoeirado, deus e diabo
fundamento enforcado
doado e prometido
plantado na fome e na sede
tigela de pouca farinha
raíz arrancada viva
galho seco a deitar ilusões
amor retirante
na cabeça resto d'água
lata sofrida
oco-eterno-vazio
ninho de vento
amor enrrugado
criança envelhecida
embrutecido das horas
amor semeado em terra seca
chão maldito em tantas covas
corpo evaporado e sublimado
queimado do sol
pássaro abatido
amor apagado
nas forquilhas da vida
existência oprimida
ajoelhada e desvalida
ressequida terra
pedaço escarrado e
rejeitado do teu
ser-latifúndio
no medonho
amargado do gosto
o silêncio forçado
amor vigiado
na espreita
do jagunço armado
capitão-do-mato
amor capturado
retirante da fé
pedreira e caminho perdido
desorizontado e tonto
tornado à tapera isolada
porque se há, no onde,
sinal minguado
da chuva chegando
como se o quase fosse
a promessa
em fazer terra nova
nova propriedade
a receber sementes
que não podem
nunca
amor retirante
acariciando os contos
do terço, amor beato
dependurado em novenas
confiado, resistente
a ser amor desenganado
amor empoeirado, deus e diabo
fundamento enforcado
doado e prometido
plantado na fome e na sede
tigela de pouca farinha
raíz arrancada viva
galho seco a deitar ilusões
amor retirante
na cabeça resto d'água
lata sofrida
oco-eterno-vazio
ninho de vento
amor enrrugado
criança envelhecida
embrutecido das horas
amor semeado em terra seca
chão maldito em tantas covas
corpo evaporado e sublimado
queimado do sol
pássaro abatido
amor apagado
nas forquilhas da vida
segunda-feira, 9 de junho de 2008
homem-da-lua
Te deram veneno
meu preto
tua garganta lúdica
fez erosão
te roubaram tempos
meu preto
tua poesia túnica
vira trapo
na boca
de quem te escarra
tua pele é prêmio
e a nação
meu preto
tua nação
é também
teu tronco
a devorar teu sangue
te deitar açoites
esfinge indecifrável
entidade inviolável
esta instituição
tentam arrancar-te
Deus, meu preto
enquanto tua boca
confessa essas igrejas
dentro de ti
- eles enlouquecem
tua palavra
meu preto
e tanta gente
desligada e repartida
só daria comoção
ódio
tantas cabeças
enserpentadas
a destilar veneno
são górgonas
meu preto, são
quem te espeta é pobre
quem te devora é pouco
tanto recalque
a eclodir pancadas
tanta gritaria
te envenena, meu preto
mas, que nada
tu sabes
tuas porções
em tuas poções
habitam tantas mulheres
tanta gente
tanta diversidade
que não há remédio
meu preto
nem há veneno não
é a vida
tuas bruxas e sereias
o teu grito e tuas luas
são as ruas, meu preto
é o que te faz viver
meu preto
tua garganta lúdica
fez erosão
te roubaram tempos
meu preto
tua poesia túnica
vira trapo
na boca
de quem te escarra
tua pele é prêmio
e a nação
meu preto
tua nação
é também
teu tronco
a devorar teu sangue
te deitar açoites
esfinge indecifrável
entidade inviolável
esta instituição
tentam arrancar-te
Deus, meu preto
enquanto tua boca
confessa essas igrejas
dentro de ti
- eles enlouquecem
tua palavra
meu preto
e tanta gente
desligada e repartida
só daria comoção
ódio
tantas cabeças
enserpentadas
a destilar veneno
são górgonas
meu preto, são
quem te espeta é pobre
quem te devora é pouco
tanto recalque
a eclodir pancadas
tanta gritaria
te envenena, meu preto
mas, que nada
tu sabes
tuas porções
em tuas poções
habitam tantas mulheres
tanta gente
tanta diversidade
que não há remédio
meu preto
nem há veneno não
é a vida
tuas bruxas e sereias
o teu grito e tuas luas
são as ruas, meu preto
é o que te faz viver
sábado, 7 de junho de 2008
Por 1968
aborta
do olhar
os embriões
da tua impotência
aborta
teu medo
teus padrões e
teu silêncio
aborta
tua burguesia
teu orgulho
tua servidão
dispa-te
abra os olhares
do teu ventre
ao impossível
[a escrevo em muros virtuais, pelos 40 anos da luta]
do olhar
os embriões
da tua impotência
aborta
teu medo
teus padrões e
teu silêncio
aborta
tua burguesia
teu orgulho
tua servidão
dispa-te
abra os olhares
do teu ventre
ao impossível
[a escrevo em muros virtuais, pelos 40 anos da luta]
Meta-poesia 05
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Roseni
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Objeto-Amor
Tudo o que não tenho é teu.
sejas, onde recuo
farta-te, onde
mínguo esfomeado
vou, para que
tu sejas
sou o que não
sustento e sinto
e calo no que falo
me escondo
para tê-la avanço
quase-estou
quase-ocupo apareço
que é pra te ver erupção
canção que não canto
tensão que não faço
perdão que não ofereço
coleção de nãos
museu vazio
à tua exposição
e calo no que falo
porque é
tua a história
tua trajetória
a me atravessar
camisa-aberta
a exibir teus peitos
teus jeitos no meu encerrar
sou tua noite
o escuro
sou furo
duro e firme
pedregulho
do teu lapidar
um palco
álcool a te extrair princípios
sou princípio e precipício
a projetar teus vôos
e ecôo teu grito
paro, porque te quero alcançar
sou sono, abandono, moldura
sou preparo e disparo
tua projeção
sou o que não sou
sou promessa
peça da tua manipulação
sou isso
teu isso
tua coisa
tua rua
sou teu sou tua
folha calada
tua palavra
teus rabiscos
risco,
sou teu risco
e sigo objeto perdido
caso assunto
matéria negócio
evento mistério
tudo o que tu queres
tua dúvida, tua angústia
tua busca.
...
teu jamais encontrar
sejas, onde recuo
farta-te, onde
mínguo esfomeado
vou, para que
tu sejas
sou o que não
sustento e sinto
e calo no que falo
me escondo
para tê-la avanço
quase-estou
quase-ocupo apareço
que é pra te ver erupção
canção que não canto
tensão que não faço
perdão que não ofereço
coleção de nãos
museu vazio
à tua exposição
e calo no que falo
porque é
tua a história
tua trajetória
a me atravessar
camisa-aberta
a exibir teus peitos
teus jeitos no meu encerrar
sou tua noite
o escuro
sou furo
duro e firme
pedregulho
do teu lapidar
um palco
álcool a te extrair princípios
sou princípio e precipício
a projetar teus vôos
e ecôo teu grito
paro, porque te quero alcançar
sou sono, abandono, moldura
sou preparo e disparo
tua projeção
sou o que não sou
sou promessa
peça da tua manipulação
sou isso
teu isso
tua coisa
tua rua
sou teu sou tua
folha calada
tua palavra
teus rabiscos
risco,
sou teu risco
e sigo objeto perdido
caso assunto
matéria negócio
evento mistério
tudo o que tu queres
tua dúvida, tua angústia
tua busca.
...
teu jamais encontrar
domingo, 1 de junho de 2008
Horas
Parado. Parado. Paradas
as horas
no relógio cansado
esquecido,
como já
pouco importam as horas
ponteiros cansados carregam
o fardo, movimentar
o tempo parado
impresso em círculos
na parede, em
luzes intermitentes.
Cansados, porque já
pouco importam as horas
horas
as horas arquivadas
relógios apontadores
dos destinos de cada recorte
que não vale,
porque a vertigem da escolha
já abandonou as horas
tic, tac, tic, tac, tic, tac
é, não é, sim, não, certo, errado, desarrumado, pronto,
tic, tac, tic, tac, tic, tac...
segue um relógio de inconsistências
espaço vazio e busca.
um relógico ocupado de mim
dos segundos arrastados, eternizados
espera: tic, tac, tic, tac, tic, tac...
haveria ali um espelho a devolver minha outra metade
agora perdida, agora esquecida, distante
consumida nas chamas de si, nos seus próprios ponteiros
ponteiros parados
tempo, tempo, tempo
até ensurdecer despertado
inevitável destino da escolha já feita
tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac
fim do tempo de espera
[este poema esta em Recortes dos Dias, outro projeto, quase. Penso ter escrito com os olhos cheios de Ferreira Gullar, em algum lugar de 2005]
as horas
no relógio cansado
esquecido,
como já
pouco importam as horas
ponteiros cansados carregam
o fardo, movimentar
o tempo parado
impresso em círculos
na parede, em
luzes intermitentes.
Cansados, porque já
pouco importam as horas
horas
as horas arquivadas
relógios apontadores
dos destinos de cada recorte
que não vale,
porque a vertigem da escolha
já abandonou as horas
tic, tac, tic, tac, tic, tac
é, não é, sim, não, certo, errado, desarrumado, pronto,
tic, tac, tic, tac, tic, tac...
segue um relógio de inconsistências
espaço vazio e busca.
um relógico ocupado de mim
dos segundos arrastados, eternizados
espera: tic, tac, tic, tac, tic, tac...
haveria ali um espelho a devolver minha outra metade
agora perdida, agora esquecida, distante
consumida nas chamas de si, nos seus próprios ponteiros
ponteiros parados
tempo, tempo, tempo
até ensurdecer despertado
inevitável destino da escolha já feita
tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac
fim do tempo de espera
[este poema esta em Recortes dos Dias, outro projeto, quase. Penso ter escrito com os olhos cheios de Ferreira Gullar, em algum lugar de 2005]
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Defeso
com janeiro
mês de azuis
retraiu-se:
fez
defeso do amor
antes, seguia
avanços
predatórios
em redes cheias
de amores
desenganados,
debatendo-se
em suspiros
finais, agonizantes
agora,
o defeso
encerrava a pesca.
bastaria, o tempo,
pra renovar
esperanças
até que as redes
voltassem ao mar
e o amor lhe tomasse
em cardumes prateados
mês de azuis
retraiu-se:
fez
defeso do amor
antes, seguia
avanços
predatórios
em redes cheias
de amores
desenganados,
debatendo-se
em suspiros
finais, agonizantes
agora,
o defeso
encerrava a pesca.
bastaria, o tempo,
pra renovar
esperanças
até que as redes
voltassem ao mar
e o amor lhe tomasse
em cardumes prateados
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Dos mundanças
do fiapo
d’água,
arroio
de essências,
daquilo
que vim
no agora,
escandaliza
um rio
bom
perder o
horizonte,
ver o
sem fim
de cada
corrente,
cada veio
d’água
vistoso,
infinito
quente e frio
pensava remar.
que nada!
a vida
é questão de
ser-peixe.
infiltrado
d’água
nas guelras
seguir
misturado
enredado
de si, das
moças e botos
praia e tocos
todas histórias
misturado
mergulhado
no sem fim
e fazer-se
sempre
chegando...
d’água,
arroio
de essências,
daquilo
que vim
no agora,
escandaliza
um rio
bom
perder o
horizonte,
ver o
sem fim
de cada
corrente,
cada veio
d’água
vistoso,
infinito
quente e frio
pensava remar.
que nada!
a vida
é questão de
ser-peixe.
infiltrado
d’água
nas guelras
seguir
misturado
enredado
de si, das
moças e botos
praia e tocos
todas histórias
misturado
mergulhado
no sem fim
e fazer-se
sempre
chegando...
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Terra queimada
O sentido se foi.
se foi o estado
agora pássaro calvo
e o país
partiu-se
feito pau arremessado
ao fogo
espirrando tons
áridos, ácidos - hálitos
desexistência e morte
a alimentar
toda fogueira urbana
a moça partiu calada
no também de tanto verde
que restou em
galho seco
resto de toco
terra, terra, terra
desgoverno do fogo
estalo e uivo
angustiado
[* a imagem é de Eduardo Silva; irmão e companheiro, anda por aí a fotografar existências.]
se foi o estado
agora pássaro calvo
e o país
partiu-se
feito pau arremessado
ao fogo
espirrando tons
áridos, ácidos - hálitos
desexistência e morte
a alimentar
toda fogueira urbana
a moça partiu calada
no também de tanto verde
que restou em
galho seco
resto de toco
terra, terra, terra
desgoverno do fogo
estalo e uivo
angustiado
[* a imagem é de Eduardo Silva; irmão e companheiro, anda por aí a fotografar existências.]
sábado, 17 de maio de 2008
Sublimações
venho de lá
convido a
viver o vivo,
este transitório
estado
de quase
a mover-se entre
quandos e
sustentar
o que "está para"...
ser o que
reticencia
toda sentença
a palavra é
nada - impressão
estalo e tentativa.
para haver,
é o que já foi
foi o que já não é
sempre um-talvez
sublimação do sabido,
o instituído
fagocitado em perguntas
um é,
de si inseguro,
desapegado
dos laços
desavisado
das pedras
coisa esquecida
sem rosto
e território,
partida
quer ser
aquilo
o que
não se é
e existir
naquele que
não se pensa
ser
aquele que é.
e
o que é, já foi
convido a
viver o vivo,
este transitório
estado
de quase
a mover-se entre
quandos e
sustentar
o que "está para"...
ser o que
reticencia
toda sentença
a palavra é
nada - impressão
estalo e tentativa.
para haver,
é o que já foi
foi o que já não é
sempre um-talvez
sublimação do sabido,
o instituído
fagocitado em perguntas
um é,
de si inseguro,
desapegado
dos laços
desavisado
das pedras
coisa esquecida
sem rosto
e território,
partida
quer ser
aquilo
o que
não se é
e existir
naquele que
não se pensa
ser
aquele que é.
e
o que é, já foi
Risco aliterado
Via a vida
pelas vitrines
e vislumbrava
vozes nos vidros
vazados
dos olhos
vertia vanessas
em vôos viciados
vacão
velho-vazio
vaso-vazio
tipo-vazio
(des)valido
vértice de si
a vomitar
verdades vãs
vãs, vão, vai
verdades vãs
velho-vulcão
vulcanizado
[Sexta-feira, vila madalena vazia. Pela vitrine, vejo o vigia que namora os carros. No vidro, furta-me um pensamento: onde anda Belaque, o professor? Tanta literatura e poesia em voz vulcânica a ensurdecer meus ouvidos jovens. Alguma coisa ficou. Que ele esteja bem.]
pelas vitrines
e vislumbrava
vozes nos vidros
vazados
dos olhos
vertia vanessas
em vôos viciados
vacão
velho-vazio
vaso-vazio
tipo-vazio
(des)valido
vértice de si
a vomitar
verdades vãs
vãs, vão, vai
verdades vãs
velho-vulcão
vulcanizado
[Sexta-feira, vila madalena vazia. Pela vitrine, vejo o vigia que namora os carros. No vidro, furta-me um pensamento: onde anda Belaque, o professor? Tanta literatura e poesia em voz vulcânica a ensurdecer meus ouvidos jovens. Alguma coisa ficou. Que ele esteja bem.]
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Cerrado
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Propósitos
A poesia
escurece
quem se
ilumina
de nadas
amanhece
quem se
recolhe em
gestos
noturnos
faz tudo
e nada
escurece
quem se
ilumina
de nadas
amanhece
quem se
recolhe em
gestos
noturnos
faz tudo
e nada
terça-feira, 13 de maio de 2008
Mais vida seca
Da menina
que viu
restou
um soluço
esquecido
distante
feito fartura
fé.
movia-se
fabiano
retirante
de si
ia oco
sob o sol
que viu
restou
um soluço
esquecido
distante
feito fartura
fé.
movia-se
fabiano
retirante
de si
ia oco
sob o sol
Cangaçocárdico
Maria-bonita
será?
haverá um quando
de ser Lampeão?
haverá história?
veredas descobertas junto?
dias de lua e sertão?
plantio de meninos?
o tempo serpenteia
entre, agora,
esse todo-dentro sertanejo
que cala e espera
roga para chover as horas
haverá então?
será?
haverá um quando
de ser Lampeão?
haverá história?
veredas descobertas junto?
dias de lua e sertão?
plantio de meninos?
o tempo serpenteia
entre, agora,
esse todo-dentro sertanejo
que cala e espera
roga para chover as horas
haverá então?
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Campanhas
Assisti, da política,
a cerimônia fúnebre.
sou parte do coro
calado, ladainha
O povo ouvia inquieto
o pregador em riste
enquanto ele,
embriagado de si
vociferava vaidades
Sobre o andor
aganizava o defunto
a política jazia parada,
morta.
ele, porque paria fiéis
redimia a morte
orando verdades vazias
a cerimônia fúnebre.
sou parte do coro
calado, ladainha
O povo ouvia inquieto
o pregador em riste
enquanto ele,
embriagado de si
vociferava vaidades
Sobre o andor
aganizava o defunto
a política jazia parada,
morta.
ele, porque paria fiéis
redimia a morte
orando verdades vazias
domingo, 11 de maio de 2008
Missa de domingo
Amanheceu o dia.
às seis horas
- quase ontem –
levantou-se,
devoto de si
entre os dentes
o terço de palavras gastas
confianças
graça armada em barro
bem dito o dia de provar o corpo
a intensidade
de uma missa em cápsula
de tudo se livra
ao todo converge
salve o reencontro
salve a descoberta
salve o homem-templo
salve o que desperta
Palavras da salvação
- tudo vem de dentro de nós
às seis horas
- quase ontem –
levantou-se,
devoto de si
entre os dentes
o terço de palavras gastas
confianças
graça armada em barro
bem dito o dia de provar o corpo
a intensidade
de uma missa em cápsula
de tudo se livra
ao todo converge
salve o reencontro
salve a descoberta
salve o homem-templo
salve o que desperta
Palavras da salvação
- tudo vem de dentro de nós
sábado, 10 de maio de 2008
Para sábado
Viver tempo de novena
sagrada quarentena
- entre –
em mim.
Eu, procissão.
Vão?
Idéias carpideiras
ladainha perene
andor carregado
figura tombada
esculpida em pedra
desgastada
repartida.
Vão?
Ao cimo daquele morro
- antes –
serpenteia paciente
come as ladeiras
o asfalto falho
recortado
lá desata e oferece
prece apressada
inicia nova caminhada
sagrada quarentena
- entre –
em mim.
Eu, procissão.
Vão?
Idéias carpideiras
ladainha perene
andor carregado
figura tombada
esculpida em pedra
desgastada
repartida.
Vão?
Ao cimo daquele morro
- antes –
serpenteia paciente
come as ladeiras
o asfalto falho
recortado
lá desata e oferece
prece apressada
inicia nova caminhada
Café Contido
No café
o conteúdo
do mundo
filtrado
na pressão
do tempo
expresso
amargo
quente
universo
escurecido
esperança
torrada
amor em pó
suas dúvidas
envelopadas
contidas
em porções
finitas
quase a adoçar
a tarde
cada coisa
dentro da
outra
seu amor
líquido engolido
- breve -
rabisca
futuros
nas paredes
o conteúdo
do mundo
filtrado
na pressão
do tempo
expresso
amargo
quente
universo
escurecido
esperança
torrada
amor em pó
suas dúvidas
envelopadas
contidas
em porções
finitas
quase a adoçar
a tarde
cada coisa
dentro da
outra
seu amor
líquido engolido
- breve -
rabisca
futuros
nas paredes
sexta-feira, 9 de maio de 2008
...
Meu irmão
onde foi teu rosto?
na mangueira,
um moleque:
voa rapaz!
belo
semblante
de quem vai
no depois,
o destino
que não vi
te perdi?
onde foi teu rosto?
na mangueira,
um moleque:
voa rapaz!
belo
semblante
de quem vai
no depois,
o destino
que não vi
te perdi?
Entardecido
Tento sonos
sobre os
ombros
da terra
sempre pouco
- atentado -
peso estendido
sobre nós
tantos nós
indesatáveis
mato que não cessa
roça interminável
eu, tributário das horas
feito meu velho pai
sobre os
ombros
da terra
sempre pouco
- atentado -
peso estendido
sobre nós
tantos nós
indesatáveis
mato que não cessa
roça interminável
eu, tributário das horas
feito meu velho pai
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Para quinta-feira
O que setembro aprende com agosto?
Seus dias secos moldados em tempo sólido
A agonia do inverno em um cuidado pálido
As poucas tardes caladas a procura de fôlego
O reencontro evitado com fantasmas incômodos
A terapia embutida nos amores recônditos
A incerteza concreta sobre um futuro insólito
A poesia encontrada num momento mecânico
As tantas cartas paradas nas respostas atônitas
O vai-e-vem calejado em tentativas biônicas
O não saber assustado feito em bomba atômica
A luz do sol diluída em noite eterna e intacta
O vir-a-ser enterrado sob uma montanha cármica
As construções permitidas na ascendência esférica
Seus dias secos moldados em tempo sólido
A agonia do inverno em um cuidado pálido
As poucas tardes caladas a procura de fôlego
O reencontro evitado com fantasmas incômodos
A terapia embutida nos amores recônditos
A incerteza concreta sobre um futuro insólito
A poesia encontrada num momento mecânico
As tantas cartas paradas nas respostas atônitas
O vai-e-vem calejado em tentativas biônicas
O não saber assustado feito em bomba atômica
A luz do sol diluída em noite eterna e intacta
O vir-a-ser enterrado sob uma montanha cármica
As construções permitidas na ascendência esférica
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Livro
Encontro
tua boca
no tempo
vazio
- quase-coisas
uma cidade, quase,
quase a história
atravesso
- nesse quando,
teus lábios
desencontrados
e me escondo
dentro de ti
em fuga,
abrigo-alimento,
e morro
no teu corpo.
revirado
você: prato
eu: náufrago faminto
Você conhece Mia Couto?
O moçambicano Mia Couto nasceu na cidade de Beira, em 1955 - um dia ainda chego por lá. Poeta, jornalista, biólogo engajado e romancista de estilo inconfundível e evocador de Guimarães Rosa, tem me encantado com sua obra. Nos últimos meses andei mergulhado em três delas: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (sublime); O último voo do flamingo; Terra sonâmbula, todos publicados pela Companhia das Letras. Sugiro leitura, no desejo de que lá você se depare com coisas do assim: "Aprendera na tropa - só se dispara sobre o inimigo quando ele estiver perto. No caso dele, porém, estava tão próximo que arriscava disparar sobre ele mesmo. Ou fosse dizer: o inimigo lhe estava dentro. Isso que ele atacava era não um país de fora, mas uma província de si". Segue um quinhão de sua poesia...
Quissico
1. Deixei o sol
na praia de Quissico
De bruços
sobre o Verão
eu deixei o Sol
na extensão do tempo
Molhando, quase líquido,
o dia afundava
nas fundas águas do Índico
A terra
se via estar nua
lembrando, distante,
seu parto de carne e lua
2. Não o pássaro: era o céu
que voava
O ombro da terra
amparava o dia
A luz
tombava ferida
pingando
como um pulso suicida
um minhas ocultas asas
Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/mia_couto.html
Quissico
1. Deixei o sol
na praia de Quissico
De bruços
sobre o Verão
eu deixei o Sol
na extensão do tempo
Molhando, quase líquido,
o dia afundava
nas fundas águas do Índico
A terra
se via estar nua
lembrando, distante,
seu parto de carne e lua
2. Não o pássaro: era o céu
que voava
O ombro da terra
amparava o dia
A luz
tombava ferida
pingando
como um pulso suicida
um minhas ocultas asas
Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/mia_couto.html
terça-feira, 6 de maio de 2008
Meta-poesia 04
Porque
nada
é separado: então?
deveriaeufazerpoesiaaglutinantemandarinjogarossímbolospelosaresfeitotextotorrencialprodutordeerosõesnoqueécompartimentorepartiçãodatolicedosfatosedasopiniõessenadasealcançaaospedaçosreduçõesecadaconstruçãoéconcretoevazioharmonianyermaieriananapoesiadascurvasdoscôncavosconvexosedasinversõesquecontenhodomundodassuascontençõesdomundosemfim
nada
é separado: então?
deveriaeufazerpoesiaaglutinantemandarinjogarossímbolospelosaresfeitotextotorrencialprodutordeerosõesnoqueécompartimentorepartiçãodatolicedosfatosedasopiniõessenadasealcançaaospedaçosreduçõesecadaconstruçãoéconcretoevazioharmonianyermaieriananapoesiadascurvasdoscôncavosconvexosedasinversõesquecontenhodomundodassuascontençõesdomundosemfim
Insistência, [ou] do pensamento sobre um eu
Me recordo
das ondas
um ir e vir
frenético:
i n a l t e r á v e l
busca constante
por um ser ( )
que nunca chega
insistente procura
andança
que não passa
e tentativas...
a motivar carícias na areia
dúvida vazia
[talvez?]
em procurarem
o que não conhecem
das ondas
um ir e vir
frenético:
i n a l t e r á v e l
busca constante
por um ser ( )
que nunca chega
insistente procura
andança
que não passa
e tentativas...
a motivar carícias na areia
dúvida vazia
[talvez?]
em procurarem
o que não conhecem
Relendo Vidas Secas
A mãe lavava roupas
, pensamento enrugado,
as estendia ao vento
pensava em voar com elas
o pai, calado,
t-o-r-c-i-a as palavras
as pendurava em poemas
mudos
pensava em voar com eles
silêncios
sonhos que não comungavam
hora de almoçar.
, pensamento enrugado,
as estendia ao vento
pensava em voar com elas
o pai, calado,
t-o-r-c-i-a as palavras
as pendurava em poemas
mudos
pensava em voar com eles
silêncios
sonhos que não comungavam
hora de almoçar.
Meta-poesia 03
que
toda
convergência
é também
óbito
a vida
se dá
em enxurradas
estouram
manadas
conceituais
palavra em
descontensão......................................... infinita
produção
toda
convergência
é também
óbito
a vida
se dá
em enxurradas
estouram
manadas
conceituais
palavra em
descontensão......................................... infinita
produção
O sertão é dentro da gente
Diz-se, do sertão
que ele é
dentro da gente
naquelas áridas
paisagens
nas paragens
e lusco-fusco
dos saberes
no vazio
das certezas
resiste.
é chama
do fogo
das escolhas
da gente
quanto podemos aí,
capoeira
de tão pouco
enxergamento?
ninguém sabe
não sabia diadorim
não sabia riobaldo
não sabia o coisa-ruim
deus? talvez menos
pobre diabo - blasfemo
pra mim
tudo parece
prosa de quando
se garra chover destinos
- nítidos -
quanda a hora precisa,
desenhada
pros passos novos
hum! aqui.
mas se a chuva
vem do céu
caberia só espera
então?
esperança?
haveria em nós
um tempo de
ave de mau-agouro?
espreita
tocaia
fé no presságio?
vai tombada
à terra
a garrafa dos
nossos demônios?
necessários
na sombra
do capim-açu
d'onde dei pra
viver escondido
pensativo
amargoso,
penso que não
talvez seja a chuva
um desabrochar
da alma
vem de dentro:
fonte permanente
ali onde
se banham
verdades claras
sei não seu moço.
faço aqui
notas breves
contas de caderneta
silêncios
jeito de ajudar
a engolir os dias
e penso que perdi
perdi por aí
um resto
de ingenuidade
que 'inda carregava
não sei pois
se é triste
o enfadonho, sabe?
penso, mas
não sei se existo
isto é certeza
pra ingleses,
estes senhores
só não tenho força
pra atirar peneiras,
tampouco
tecer poemas
a moças-vaidosas
e são tantas, tão perto.
fica então
com este escorrido
de versos
vou te desejando
ingenuidades
desimportâncias
ilusões
daí a leitura.
este livro é parte
do presente.
mas também
ontem e amanhã:
Guimarães.
sertão
e fé.
a outra
sigo sendo eu.
e tudo que
não vejo ser
é...
verdade danada.
o sertão, seu moço
é dentro da gente
[você conhece a obra de João Guimarães Rosa?]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Guimar%C3%A3es_Rosa
que ele é
dentro da gente
naquelas áridas
paisagens
nas paragens
e lusco-fusco
dos saberes
no vazio
das certezas
resiste.
é chama
do fogo
das escolhas
da gente
quanto podemos aí,
capoeira
de tão pouco
enxergamento?
ninguém sabe
não sabia diadorim
não sabia riobaldo
não sabia o coisa-ruim
deus? talvez menos
pobre diabo - blasfemo
pra mim
tudo parece
prosa de quando
se garra chover destinos
- nítidos -
quanda a hora precisa,
desenhada
pros passos novos
hum! aqui.
mas se a chuva
vem do céu
caberia só espera
então?
esperança?
haveria em nós
um tempo de
ave de mau-agouro?
espreita
tocaia
fé no presságio?
vai tombada
à terra
a garrafa dos
nossos demônios?
necessários
na sombra
do capim-açu
d'onde dei pra
viver escondido
pensativo
amargoso,
penso que não
talvez seja a chuva
um desabrochar
da alma
vem de dentro:
fonte permanente
ali onde
se banham
verdades claras
sei não seu moço.
faço aqui
notas breves
contas de caderneta
silêncios
jeito de ajudar
a engolir os dias
e penso que perdi
perdi por aí
um resto
de ingenuidade
que 'inda carregava
não sei pois
se é triste
o enfadonho, sabe?
penso, mas
não sei se existo
isto é certeza
pra ingleses,
estes senhores
só não tenho força
pra atirar peneiras,
tampouco
tecer poemas
a moças-vaidosas
e são tantas, tão perto.
fica então
com este escorrido
de versos
vou te desejando
ingenuidades
desimportâncias
ilusões
daí a leitura.
este livro é parte
do presente.
mas também
ontem e amanhã:
Guimarães.
sertão
e fé.
a outra
sigo sendo eu.
e tudo que
não vejo ser
é...
verdade danada.
o sertão, seu moço
é dentro da gente
[você conhece a obra de João Guimarães Rosa?]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Guimar%C3%A3es_Rosa
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Saguão
dos dias em que há silêncio
devo pensá-los espaço
vazio arquitetônico
esplanado
pedestal de deslumbramento
e dores
dos dias em que há rumores
devo pensá-los trovoadas
alma em tempo de chuva
sono de tudo o que é terminado
e certo
religio ao ser que assusta - eu
dos dias em que há imprecisões
devo pensá-las mórulas
tardança em enxergar veredas sólidas
e vai.
para todos os dias
jeitos de compreender
o sol e a lua
coisas que não só hermetismos
os faço também eu
que na falta de melodias
vou lhes esculpindo
frases soltas
devo pensá-los espaço
vazio arquitetônico
esplanado
pedestal de deslumbramento
e dores
dos dias em que há rumores
devo pensá-los trovoadas
alma em tempo de chuva
sono de tudo o que é terminado
e certo
religio ao ser que assusta - eu
dos dias em que há imprecisões
devo pensá-las mórulas
tardança em enxergar veredas sólidas
e vai.
para todos os dias
jeitos de compreender
o sol e a lua
coisas que não só hermetismos
os faço também eu
que na falta de melodias
vou lhes esculpindo
frases soltas
Poemas Apertados - 01
há um despertamento
entre tantos quandos
adormecidos e pontos
forma desajeitada
de perceber as horas
este emaranhado de galhos
nos quais embaraço desejos
há um tempo flácido
sem fim nem começo
para fazer segredos
tempo inventado em proza
rimado a amanheceres vagos
inversos dos amores meus
entre tantos quandos
adormecidos e pontos
forma desajeitada
de perceber as horas
este emaranhado de galhos
nos quais embaraço desejos
há um tempo flácido
sem fim nem começo
para fazer segredos
tempo inventado em proza
rimado a amanheceres vagos
inversos dos amores meus
Ensaios sobre o ver - 15
àquela gente
enxergar
não procedia
paralisia
da visão
o curioso
era um
moleque
minguado
agredido
esquecido
pelas esquinas
sujas
da capital (feudo)
eram olhos
de pernas fracas
mas eram olhos...
enxergar
não procedia
paralisia
da visão
o curioso
era um
moleque
minguado
agredido
esquecido
pelas esquinas
sujas
da capital (feudo)
eram olhos
de pernas fracas
mas eram olhos...
Meta-poesia 02
não sou, portanto
escritor, poeta
romancista, cronista
não.
não posso assim
meu sistema poético
é
órgão de sentido
cumpre sina
trabalha
opera no toda-hora
horas
insiste, porque existe
faço poesia
involuntária
questão
de manifestação
escritor, poeta
romancista, cronista
não.
não posso assim
meu sistema poético
é
órgão de sentido
cumpre sina
trabalha
opera no toda-hora
horas
insiste, porque existe
faço poesia
involuntária
questão
de manifestação
Meta-poesia
o vermelho
habita
a poética
parida
em mim
olhos
crepúsculos
estrelas
bandeiras
flores e
sangue
é do que
me farto
pratos-feitos
diários
minha rubra
- desejosa
do incendiário -
produção
a respeito
do cotidiano
mastigado
é que escrevo
como se
minha paixão
fosse o
relógio de ponto
o café no balcão
lotação, pressa
fila
feijão
sobre tudo
o que me
serve de
invenção
incorporo
mastigo
mastigo
quando termino
e devolvo.
a lápis
da minha mão
secreção poética
tudo o que penso
tomo emprestado
licencio
furto concepções,
isso.
assim deveria estar:
eu,
credor do que
ao meu redor
existe
habita
a poética
parida
em mim
olhos
crepúsculos
estrelas
bandeiras
flores e
sangue
é do que
me farto
pratos-feitos
diários
minha rubra
- desejosa
do incendiário -
produção
a respeito
do cotidiano
mastigado
é que escrevo
como se
minha paixão
fosse o
relógio de ponto
o café no balcão
lotação, pressa
fila
feijão
sobre tudo
o que me
serve de
invenção
incorporo
mastigo
mastigo
quando termino
e devolvo.
a lápis
da minha mão
secreção poética
tudo o que penso
tomo emprestado
licencio
furto concepções,
isso.
assim deveria estar:
eu,
credor do que
ao meu redor
existe
Assinar:
Postagens (Atom)