Do outro lado da palavra existe o quê?
o quando? o quem? o qual?
o sorriso e a angústia do pescador?
as mãos e o pânico do alpinista?
o coração que bate na sua boca?
existe o quê? se
do outro lado da palavra mora um espelho,
imagens do nada
andar vazio
o depois do incêndio.
convém?
***
a palavra não-é.
aqui escrevo sustos
impressos no meu tempo,
enquanto toda idéia é um não-saber
abro buracos em cada sentença
a palavra é minha sentença.
ela pensa, quando pensar é não-ser.
o afundar no poço de cada escolha
por quê não falo?
a palavra é arremedo, imitação, poesia.
é ponte entre mundos que não habito
onde não existo
linha de costura a nos enganar
finge cerzir o pano invisível da existência
na palavra:
sujeitos sem pátria
silêncio e labirinto
na palavra:
hei de também não existir
Um comentário:
E fico pensando o que há no entrelugar.
No caminho da palavra para o silêncio.
Na "terceira margem do rio".
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