é como aquele inteiro ano
infinitas curvas de rodas d'água
fosse um amanhecer de dia santo
faz um silêncio em floração
feito aqueles milagrinhos
no pouco das frestas na calçada
vai existir um outro tempo
um estar na cama, que é a
conta entre culpa, angústia, solidão
o pão conhecido em detalhe novo
um café a tornar-se frio, e os
pés no gelado do ladrilho
a gente tem um querer solto
arisco em ser qualquer coisa
pensa que é água, que é vento
que desdobra em toda orgia
de pensamento: poda o capim,
corta o baralho, proseia a cachaça
vive o sublime do joão-de-barro
no enquanto a gente se basta
é auto em toda coisa pequena.
não nada. não tarda a existência
a tornear no dentro um vasinho
de doença, um zumbido, uma coisa
o tempo entornado é tudo oficina
e o querer sem fronteira o barro
do vaso, a fria matéria-prima
a gente sonha lampejos de paz
e só desadoece quando não existe.
todo dia que acaba é só tratamento
se há graça, está na vigília,
no fardo de terra que se alivia
no tempo-de-aleluia de um enxergar
cada inteiro ano é então pó
pedra-sabão que a hora vai roer.
chão, relevo, sonho e só
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