O moçambicano Mia Couto nasceu na cidade de Beira, em 1955 - um dia ainda chego por lá. Poeta, jornalista, biólogo engajado e romancista de estilo inconfundível e evocador de Guimarães Rosa, tem me encantado com sua obra. Nos últimos meses andei mergulhado em três delas: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (sublime); O último voo do flamingo; Terra sonâmbula, todos publicados pela Companhia das Letras. Sugiro leitura, no desejo de que lá você se depare com coisas do assim: "Aprendera na tropa - só se dispara sobre o inimigo quando ele estiver perto. No caso dele, porém, estava tão próximo que arriscava disparar sobre ele mesmo. Ou fosse dizer: o inimigo lhe estava dentro. Isso que ele atacava era não um país de fora, mas uma província de si". Segue um quinhão de sua poesia...
Quissico
1. Deixei o sol
na praia de Quissico
De bruços
sobre o Verão
eu deixei o Sol
na extensão do tempo
Molhando, quase líquido,
o dia afundava
nas fundas águas do Índico
A terra
se via estar nua
lembrando, distante,
seu parto de carne e lua
2. Não o pássaro: era o céu
que voava
O ombro da terra
amparava o dia
A luz
tombava ferida
pingando
como um pulso suicida
um minhas ocultas asas
Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/mia_couto.html