terça-feira, 10 de junho de 2008

Amor-retirante

amor retirante
existência oprimida
ajoelhada e desvalida
ressequida terra
pedaço escarrado e
rejeitado do teu
ser-latifúndio

no medonho
amargado do gosto
o silêncio forçado
amor vigiado
na espreita
do jagunço armado
capitão-do-mato
amor capturado

retirante da fé
pedreira e caminho perdido
desorizontado e tonto
tornado à tapera isolada
porque se há, no onde,
sinal minguado
da chuva chegando

como se o quase fosse
a promessa
em fazer terra nova
nova propriedade
a receber sementes
que não podem
nunca

amor retirante
acariciando os contos
do terço, amor beato
dependurado em novenas
confiado, resistente
a ser amor desenganado

amor empoeirado, deus e diabo
fundamento enforcado
doado e prometido
plantado na fome e na sede
tigela de pouca farinha
raíz arrancada viva
galho seco a deitar ilusões

amor retirante
na cabeça resto d'água
lata sofrida
oco-eterno-vazio
ninho de vento
amor enrrugado
criança envelhecida
embrutecido das horas

amor semeado em terra seca
chão maldito em tantas covas
corpo evaporado e sublimado
queimado do sol
pássaro abatido
amor apagado
nas forquilhas da vida

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