terça-feira, 17 de junho de 2008

Opa-cidade

os prédios ameaçam Deus
enquanto flores
despencam em janelas cerradas

toda torre arde
como setembro
e a cidade, finalmente,
inten-cidade
cumpre-se
em rios metálicos açoreados
e destina-se em
crepúsculos cinza
futuriza-se em árvores plásticas
gente pálida
em turbilhonada existência

cidade-angústia, cidade-máquina, seca cidade
analcidade feita em desejo estético
corpo invadido
cisão política.

a pólis reinventa éticas
mastiga meus ouvidos quando
cospe palavrões em muros pixados
gente espalhada
em tanta periférica existência
tanta concentração: opacidade

minha cidade é susto
e ameaça
humana ratoeira a esconder
sorrisos tímidos
gente roída se debate
onde não há mais
nada

tudo é terra ocupada
tempo ocupado
em cabeças sem teto, sem terra, sem tento e ternura

a cidade são buracos
correria, grito, porrada
enxurrada e capital
invencível cidade
sob avermelhado céu
taquicárdicas tentativas
em fabricar sentidos
no todo dia.

[a imagem que acompanha a poesia conheço por cidade sp e foi gentilmente cedida por André Brandão: http://www.andrebrandao.com/]

2 comentários:

Anônimo disse...

Aqui, não vejo palavras sugerindo coisas, fatos, realidades.
Antes, vejo as imagens transformadas em verbos-símbolos. A poesia nao me enseja pensamentos, mas olhares.
Não são os signos literários que importam.São as imagens, existindo por si mesmas,ordenando o delírio poético na denúncia do caos urbano.

Anônimo disse...

As imagens do cotidiano são a arte do possível.
Arte carregada de beleza e poesia.
Há magia no caos!