São Paulo são esses vultos
uma porção de gente
espremida em silêncios:
a cidade está em guerra!
os manos são esquinas vazias
encruzilhadas bélicas
em eterno não ter por onde...
enquanto você goza,
covarde, canalha, finge -
você não pode ver.
enquanto compra asfalto,
limpeza, pontes, médicos de faz-de-conta,
giram metralhadoras a cuspir
palavras, porradas e pedidos
as minas explodem pisoteadas
nos corredores da linguagem fálica
- são apenas pedaços de carne
a abastecer cozinhas, latrinas
e motéis baratos; não são mulheres.
são artefatos soterrados, risco necessário
e a cidade cospe fogo
na sua constipação diária, paranóica.
veias arregaladas,
a cidade cheira e fuma
em nóia agonizante.
usa túneis para esconder rostos
e um silêncio mecânico
- olímpico -
no êxtase das linhas de produção
a cidade não existe!
São Paulo é um
continente em disputa.
campo de batalha que
arrebentou são jorges,
são bentos, são lucas...
sé-fé-roubo.
a cidade é um discurso ao avesso:
espaços, buracos, afastamento,
a cidade é salto-à-distância
São Paulo. São Paulo?
São Paulo é não compreender.
São Paulo é nossa Grande Falha
São Paulo não é uma cidade.
São Paulo é pergunta permanente,
ameaçadora.
[a imagem capturei no blog que mico, que agradeço e recomendo]
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