Te deram veneno
meu preto
tua garganta lúdica
fez erosão
te roubaram tempos
meu preto
tua poesia túnica
vira trapo
na boca
de quem te escarra
tua pele é prêmio
e a nação
meu preto
tua nação
é também
teu tronco
a devorar teu sangue
te deitar açoites
esfinge indecifrável
entidade inviolável
esta instituição
tentam arrancar-te
Deus, meu preto
enquanto tua boca
confessa essas igrejas
dentro de ti
- eles enlouquecem
tua palavra
meu preto
e tanta gente
desligada e repartida
só daria comoção
ódio
tantas cabeças
enserpentadas
a destilar veneno
são górgonas
meu preto, são
quem te espeta é pobre
quem te devora é pouco
tanto recalque
a eclodir pancadas
tanta gritaria
te envenena, meu preto
mas, que nada
tu sabes
tuas porções
em tuas poções
habitam tantas mulheres
tanta gente
tanta diversidade
que não há remédio
meu preto
nem há veneno não
é a vida
tuas bruxas e sereias
o teu grito e tuas luas
são as ruas, meu preto
é o que te faz viver
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