sexta-feira, 23 de maio de 2008

Terra queimada

O sentido se foi.
se foi o estado
agora pássaro calvo
e o país
partiu-se
feito pau arremessado
ao fogo
espirrando tons
áridos, ácidos - hálitos

desexistência e morte
a alimentar
toda fogueira urbana

a moça partiu calada
no também de tanto verde
que restou em
galho seco
resto de toco
terra, terra, terra
desgoverno do fogo
estalo e uivo
angustiado

[* a imagem é de Eduardo Silva; irmão e companheiro, anda por aí a fotografar existências.]

2 comentários:

Anônimo disse...

...então os "homens" erradicaram-lhe um galho: Lima.
E ela nao se fez ácida.
E ela destilava candura.

Tímida,
a moça tinha mesmo o silêncio triste das árvores,
a floresta no nome.
era preciso (des)matar-lhe os sonhos

Silva não lembra Chico Mendes?

Anônimo disse...

Somos um bando de Franciscos!
Cada qual à margem do seu abismo,
da sua transposição.
Mas já não somos o oposto?
Resta a abstração da imagem;
o segredo das pétalas disformes
que não se sabe vivas ou mortas.
E tudo era floresta...
E tantos Franciscos partiram...
E tanta angústia ainda resta viver.
A moça, calada,
pois um mundo a falar.