sábado, 4 de abril de 2009

Entre quase olhares raimundos

tu que enxergas tanto
que então, de tanto
esse enxergar tanto
vai acabar no quando
um canto de nada ver

é tanta palavra a
desenhar teus tais
desesperos

é tanta falsa certeza
a esconder teus tais
atropelos

é tanta profecia na
boca em que nada há
além do fel de um oco

que este sufoco vai se
embeber de vaidade
fazer de tudo partida
e se lançar às medalhas

que já não hão, não.
tu que enxergas tanto
e tanto desenhas nas
telas do mundo
será tu Raimundo
um menino sem rima
um poeta invertido,
seria tu, então,
rapaz sem solução?

Carlos Drumond
e essa pedra opaca
e amarga a te
entupir a visão?

ah, meu rapaz.
pior é perder-se nas horas
pior é uma dor sem demora
pior é o vasto pasto de agora
em que tu te vês, e eu sei,
essa baba que escorre na boca
dos bichos,
esse então sem caprichos
essa lata de leite virada
num onde não se pode ajuntar

ah, meu rapaz.
se tu te chamaste Raimundo
e esse mundo vasto fosse
também o teu berço
o colo da tua mãe e os
tempos deitados diante do mar

se tu te chamaste Raimundo
e eu fosse Drumond
e te removesse pedras
e erguesse as tais rimas,
então tu,
deste mundo,
não seria arrastado
e seria cuidado,
dormiria abraçado
embalado nos olhos
medrosos das moças
prendadas,
tu?
tu ganharias o mundo
da boca do
teu inimigo
e teria teu riso
tua rima
tua solução

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