São Paulo são esses vultos
uma porção de gente
espremida em silêncios:
a cidade está em guerra!
os manos são esquinas vazias
encruzilhadas bélicas
em eterno não ter por onde...
enquanto você goza,
covarde, canalha, finge -
você não pode ver.
enquanto compra asfalto,
limpeza, pontes, médicos de faz-de-conta,
giram metralhadoras a cuspir
palavras, porradas e pedidos
as minas explodem pisoteadas
nos corredores da linguagem fálica
- são apenas pedaços de carne
a abastecer cozinhas, latrinas
e motéis baratos; não são mulheres.
são artefatos soterrados, risco necessário
e a cidade cospe fogo
na sua constipação diária, paranóica.
veias arregaladas,
a cidade cheira e fuma
em nóia agonizante.
usa túneis para esconder rostos
e um silêncio mecânico
- olímpico -
no êxtase das linhas de produção
a cidade não existe!
São Paulo é um
continente em disputa.
campo de batalha que
arrebentou são jorges,
são bentos, são lucas...
sé-fé-roubo.
a cidade é um discurso ao avesso:
espaços, buracos, afastamento,
a cidade é salto-à-distância
São Paulo. São Paulo?
São Paulo é não compreender.
São Paulo é nossa Grande Falha
São Paulo não é uma cidade.
São Paulo é pergunta permanente,
ameaçadora.
[a imagem capturei no blog que mico, que agradeço e recomendo]
domingo, 21 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - III
O tempo não tem cabeça
nos ocupa e encarna
que é para saber pensar
será que a gente é o sonho do tempo?
lembro um filme que não assisti.
o homem era um delírio
era um homem sonhado
um tipo de sombra
amarrada a outra
existência - indisvencilhável.
pode uma sombra existir sem coisa?
o tempo sonhava o homem
a coisa sonhava o homem
a pedra pensava o tipo
o rótulo, a nota, o nada
tudo o sujeitava,
ele era diminuído de si:
um fantasma
o sujeito era só um caminho
sua vontade, outra decisão
curioso:
ele votava
ele comprava
ele elegia nos menus
ele escolhia profissão
ele crivava amizades
ele lia revistas
escolhia lados e amores
pensava que pensava
irritava-se até,
na tola certeza
do quem manda aqui sou eu
será que não sabia dos poderes do tempo?
nos ocupa e encarna
que é para saber pensar
será que a gente é o sonho do tempo?
lembro um filme que não assisti.
o homem era um delírio
era um homem sonhado
um tipo de sombra
amarrada a outra
existência - indisvencilhável.
pode uma sombra existir sem coisa?
o tempo sonhava o homem
a coisa sonhava o homem
a pedra pensava o tipo
o rótulo, a nota, o nada
tudo o sujeitava,
ele era diminuído de si:
um fantasma
o sujeito era só um caminho
sua vontade, outra decisão
curioso:
ele votava
ele comprava
ele elegia nos menus
ele escolhia profissão
ele crivava amizades
ele lia revistas
escolhia lados e amores
pensava que pensava
irritava-se até,
na tola certeza
do quem manda aqui sou eu
será que não sabia dos poderes do tempo?
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - II
Eu não conheci
a orgia dos padres
não roubei vinho
em sacristia
ou adormeci ao som
sufocado dos coroinhas
eu não atravessei
bêbado a fronteira
dos corpos amontoados
não fiz promessas
no vazio do ventre
das multidões
eu escolhi dia de chuva
para começar sapatos novos
joguei bola no morro a cima
deixei de fora o dinheiro
quando dei em comprar sentidos
eu não escalei palanques
fiz um arquivo morto de gravatas
recolhi, para perguntar das frestas
e descansei em dias de sol
agora, atravessei a rua
que levo tatuada no corpo
que é pra visitar
o outro lado de mim; e vou.
tenho lentes nos olhos
que são pra filtrar
o que desbota os dias
e procuro...
do teu medo
eu nunca fugi
tenho asas magras,
de alguma serventia
quero.
não espero
viver na tua boca
a orgia dos padres
não roubei vinho
em sacristia
ou adormeci ao som
sufocado dos coroinhas
eu não atravessei
bêbado a fronteira
dos corpos amontoados
não fiz promessas
no vazio do ventre
das multidões
eu escolhi dia de chuva
para começar sapatos novos
joguei bola no morro a cima
deixei de fora o dinheiro
quando dei em comprar sentidos
eu não escalei palanques
fiz um arquivo morto de gravatas
recolhi, para perguntar das frestas
e descansei em dias de sol
agora, atravessei a rua
que levo tatuada no corpo
que é pra visitar
o outro lado de mim; e vou.
tenho lentes nos olhos
que são pra filtrar
o que desbota os dias
e procuro...
do teu medo
eu nunca fugi
tenho asas magras,
de alguma serventia
quero.
não espero
viver na tua boca
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Palavras talheres
Era dia 11 e eu comemorava aniversário. Das mãos de um monte de gente querida, que rodaram um guardanapo e tinta verde, nasceu uma poesia assim, feita de mesa, feita em presente pra mim:
uma massa fresca
uma flor vermelha
três décadas e sóis
sete mesas geniais
mulheres grávidas
um beijo vermelho da Deise
bolo de chocolate com cinco brigadeiros
toalha te-adoro
bolinhos recheados,
de gorgonzola, nunca mais!
são paulo acolhe tudo isso
29 amigos e 15 copos de cerveja
tomates secos pisoteados
fome porre fome
agente quer comida!
direito de repetição
uns chegam outros partem
precisamos de mais
flores, de mais você.
E me entregaram, não assinaram, mas está tudo aí. Eu juro. Viva a poesia, viva-poesia. Viva o ter amigos, porque nada é mais.
uma massa fresca
uma flor vermelha
três décadas e sóis
sete mesas geniais
mulheres grávidas
um beijo vermelho da Deise
bolo de chocolate com cinco brigadeiros
toalha te-adoro
bolinhos recheados,
de gorgonzola, nunca mais!
são paulo acolhe tudo isso
29 amigos e 15 copos de cerveja
tomates secos pisoteados
fome porre fome
agente quer comida!
direito de repetição
uns chegam outros partem
precisamos de mais
flores, de mais você.
E me entregaram, não assinaram, mas está tudo aí. Eu juro. Viva a poesia, viva-poesia. Viva o ter amigos, porque nada é mais.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Ensaios sobre Setembro - I
A gente é sempre
um tanto de rio
em que não se
navegou
A gente é uma
nuvem de chuva
nos agostos do sul
a gente tem sempre
um quarto apagado
no escuro da casa
a gente é um
pedaço de história
que alguém vai narrar
a gente é quase
a gente é será.
a gente está
no depois da curva
a gente é, no suspiro.
e a gente é uma pausa
dos outros.
a gente vive.
e viver?
viver é uma vontade
um tanto de rio
em que não se
navegou
A gente é uma
nuvem de chuva
nos agostos do sul
a gente tem sempre
um quarto apagado
no escuro da casa
a gente é um
pedaço de história
que alguém vai narrar
a gente é quase
a gente é será.
a gente está
no depois da curva
a gente é, no suspiro.
e a gente é uma pausa
dos outros.
a gente vive.
e viver?
viver é uma vontade
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