terça-feira, 22 de março de 2011

Beirais

e o amor era tão somente
seus vestidos estampados

os frascos esparramados
sobre a pia do banheiro

as malas retornadas de
mais outra breve viagem

os livros esperando olhos
sobre os criados mudos

as telas coloridas nas
salas de estar

as fotografias de família
esperando nas paredes

os discos de vinil no
silêncio do armário

as panelas azuis entre
as marcas do domingo

os brinquedos pela casa
o sono da nossa menina

e o amor era tão somente
aquilo que abrigava a gente

o cobertor de lã e os corpos
das garrafas de Malbec

o orçamento a ser preenchido
e o longo vidro de macarrão

as chaves dependuradas e as
sóbrias garrafas de cachaça

as férias no horizonte e as
festas de aniversário

os amigos que virão no
sábado a se passar

o café na padaria e os
cachorros pela calçada

um embaraço de palavras e um
telefonema de saudade

os filmes que nos assistiram
desaparecer no fundo do sofá

e o amor era tão somente
uma coleção de pegadas

e nem era exatamente assim
mas a trama que fazia viver

2 comentários:

SH disse...

Gosto deste estilo ,um making of,
clicks da máquina poética.
O olhar em versos são como takes fotográficos, captando
sentimentos vivos no ambiente da sensibilidade.

Então, quantas coisas podem as palavras?

Ana Raspini disse...

Saudações, colega blogueiro:
Belo poema, falar do cotidiano é sempre íntimo e impessoal ao mesmo tempo.

http://prefaciodonada.blogspot.com/