e o amor era tão somente
seus vestidos estampados
os frascos esparramados
sobre a pia do banheiro
as malas retornadas de
mais outra breve viagem
os livros esperando olhos
sobre os criados mudos
as telas coloridas nas
salas de estar
as fotografias de família
esperando nas paredes
os discos de vinil no
silêncio do armário
as panelas azuis entre
as marcas do domingo
os brinquedos pela casa
o sono da nossa menina
e o amor era tão somente
aquilo que abrigava a gente
o cobertor de lã e os corpos
das garrafas de Malbec
o orçamento a ser preenchido
e o longo vidro de macarrão
as chaves dependuradas e as
sóbrias garrafas de cachaça
as férias no horizonte e as
festas de aniversário
os amigos que virão no
sábado a se passar
o café na padaria e os
cachorros pela calçada
um embaraço de palavras e um
telefonema de saudade
os filmes que nos assistiram
desaparecer no fundo do sofá
e o amor era tão somente
uma coleção de pegadas
e nem era exatamente assim
mas a trama que fazia viver
terça-feira, 22 de março de 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
passou
daquele amor que o
demo esculpiu do açúcar
já não engasgo mais
dele me mudei de estado
enquanto o bicho me tomava
tripas até o embaçar dos olhos
mudei
mudei da idade, mudei do corpo que abrigou o teu, mudei da casa em que te recebi, mudei do carro, do itinerário e da tua direção; enquanto roía, mudei de roupa, sapato e profissão. mudei de música, de livro e de igreja. mudei o dia do supermercado e meu jeito de pedir café. mudei de ângulos e remédios, mudei das dores e da poesia, dos livros de deixei na estante, da revista semanal e do diário da manhã. mudei as páginas da folhinha na parede, mudei das telas e do tannat que nunca nem mais bebi.
enquanto corria, mudei do tempo em que te conheci, mudei daquelas palavras que te falei, mudei da música que compus, das melodias sob o chuveiro, de marca de cerveja, de restaurante e do parmeggiana naquela cantina antiga. mudei de aspecto, de humor e de semblante. mudei de cinema e do programa de televisão. mudei as teorias e o partido, meu jeito de ler Guimarães e o parque que frequentava.
do amor que cuspiu só os pedaços do mastigado de mim, mudei as vozes, as juras, as lágrimas e os gritos daquele impossível; mudei de espera, de esquina, de bairro e da marca de cigarro que nunca fumei. mudei de cama, de armário, das roupas nos cabides, das pizzas que escolhia, mudei a marca do meu perfume e a lembrança que tinha do teu.
mudei o tom, os olhos, o amarelo dos dentes e os gritos nos dias do futebol. mudei o creme de barbear e os destinos das viagens. mudei as perguntas, pra mudar desde o que se chamava lá até isto que agora me chama aqui. e mudei um bocado, ora aos trancos, ora leito, torto ou certo, mudei dos dias de chuva e das horas enrolaradas que me queimei de ti.
mudei o jeito de tomar fôlego e de pedir perdão, mudei os objetos que colecionava, o correio eletrônico e a marca da cachaça. mudei de estação em estação, até que num dia quente em que já ia alegre, numa quinta-feira de um mês que me esqueci, fui me dar no espelho que eu já nem era eu, aquele um que ia distante então pelas costas. mudei o contrato e os móveis ao meu redor, e foi tanto, e foi tanto, e foi tanto, até que fui me ver aos risos em uma casa nova cheia de flores e discos, para ali poder descansar de tanto tempo de não ser, para ancorar firme e sereno, nada além de um inquilino de mim.
demo esculpiu do açúcar
já não engasgo mais
dele me mudei de estado
enquanto o bicho me tomava
tripas até o embaçar dos olhos
mudei
mudei da idade, mudei do corpo que abrigou o teu, mudei da casa em que te recebi, mudei do carro, do itinerário e da tua direção; enquanto roía, mudei de roupa, sapato e profissão. mudei de música, de livro e de igreja. mudei o dia do supermercado e meu jeito de pedir café. mudei de ângulos e remédios, mudei das dores e da poesia, dos livros de deixei na estante, da revista semanal e do diário da manhã. mudei as páginas da folhinha na parede, mudei das telas e do tannat que nunca nem mais bebi.
enquanto corria, mudei do tempo em que te conheci, mudei daquelas palavras que te falei, mudei da música que compus, das melodias sob o chuveiro, de marca de cerveja, de restaurante e do parmeggiana naquela cantina antiga. mudei de aspecto, de humor e de semblante. mudei de cinema e do programa de televisão. mudei as teorias e o partido, meu jeito de ler Guimarães e o parque que frequentava.
do amor que cuspiu só os pedaços do mastigado de mim, mudei as vozes, as juras, as lágrimas e os gritos daquele impossível; mudei de espera, de esquina, de bairro e da marca de cigarro que nunca fumei. mudei de cama, de armário, das roupas nos cabides, das pizzas que escolhia, mudei a marca do meu perfume e a lembrança que tinha do teu.
mudei o tom, os olhos, o amarelo dos dentes e os gritos nos dias do futebol. mudei o creme de barbear e os destinos das viagens. mudei as perguntas, pra mudar desde o que se chamava lá até isto que agora me chama aqui. e mudei um bocado, ora aos trancos, ora leito, torto ou certo, mudei dos dias de chuva e das horas enrolaradas que me queimei de ti.
mudei o jeito de tomar fôlego e de pedir perdão, mudei os objetos que colecionava, o correio eletrônico e a marca da cachaça. mudei de estação em estação, até que num dia quente em que já ia alegre, numa quinta-feira de um mês que me esqueci, fui me dar no espelho que eu já nem era eu, aquele um que ia distante então pelas costas. mudei o contrato e os móveis ao meu redor, e foi tanto, e foi tanto, e foi tanto, até que fui me ver aos risos em uma casa nova cheia de flores e discos, para ali poder descansar de tanto tempo de não ser, para ancorar firme e sereno, nada além de um inquilino de mim.
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