ler o jornal
não me acode
não há um só tempo
no olho amargo
destes tipos
e encontro uma prosa
seca nos dentes de quem
articula os fatos
um gosto de já morreu
como se fosse
tudo escuro no amanhecido
e só lhes coubesse
ser Creonte num texto
que só enxerga nadas
e que me cobra caro
a luz e o doce
que faço ver
nos arredores da
minha cidade
ler o jornal
não me acode
porque ali reza a feia
cartilha dos brancos
que nunca souberam
pisar o chão
com medo de enraizar
prazeres na terra fértil
dessa cabeça pátria
misturada que apenas é
porque os diários
são uma coleção de nãos,
gene do arame que
insiste em cercar as ruas
e deitar os campos
ler o jornal
não me acode
porque hoje é um dia
de semear amplos,
e de regar de tempo
gana e suspiro
as direções do agora
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