Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
então míngua a sesmaria
que sobrevivia aos laços
em uma maré sem defesos
sempre a vazar destinos seus
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
isso que bebe toda firmeza
do quanto que houve rocha
a segredar em espumas, que o vivo
só vai no incerto do que está para
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
a polir a pedra de Sísifo
e diluir as encostas
para fazer um sol na insistência
flutuante tempo a fabricar sabores
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
no novo verso desta boca
sempre velha moça desconhecida
a assoprar atalhos náufragos
desta carta que se navega a sós
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
o leito revolto e lúcido
feito a aposentar fantasias
isto tudo, sublime existência
a me ver horizonte-contrário
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
a casta que esparrama um traço
cada escolha sã que nem não conheci
o barro que me cuspiu bicho
as mãos do povo que concebeu
Amanhã, nó-dia, gente senhores
está a trigésima sétima onda
que torna a devolver o mar
água que bebe a terra que ergui
sempre que encerra o tempo que tive
canto que abraça o grito que dei
e este que vem naquilo que fui